"2:47 O agir (nesta esfera de vibração) é um dever, mas que o teu ego não cobice os frutos da ação. Não te apegues nem à ação nem à inação.
"Sejamos como uma cotovia divina, que canta por prazer sem tentar impressionar nem obter coisa alguma de ninguém. Os que agem movidos pelo ego são enredados na teia de maya. O universo passou a existir graças ao poder da Vibração Cósmica, o grande som de AUM. Enquanto a pessoa vive na esfera da manifestação e não se abisma no Espirito, acha impossível não agir de alguma maneira. O importante é agir corretamente.
Para atingir a consciência divina, é necessário desapegar-se da ideia do 'eu' e do 'meu'. A consciência infinita parece finita no ego, como no átomo. Mas isso não passa de aparência. O átomo não pode impedir-se de girar em sua realidade minúscula, mas o ego, por ser consciente, pode aspirar a livrar-se da manifestação vibratória. Como escreveu Patanjali, 'Yogas chitta vritti nirodha' ('O Yoga é a neutralização dos redemoinhos de paixão na consciência'). O dever espiritual de todo ego é interromper o movimento que gera libertando-se de pensamentos 'redemoinhantes' como 'O que quer que eu faça, faço-o em beneficio próprio!' Ser escravo da ilusão nada mais é que referir constantemente aquilo que se faz (ou pensa, ou goza, ou sofre) ao próprio eu. Não só a ação, mas também todos os prazeres do mundo e os padecimentos, são contaminados pela ideia: 'Sou eu quem faz, sou eu quem goza, sou eu quem sofre.' E depois pela pergunta indignada: 'Mas por que sou eu o sofredor?'
A solução não é impedir-se de agir. Algumas pessoas - eremitas, por exemplo - pensam evoluir espiritualmente sem nada fazer. Essa ideia é outra ilusão. Se temos de respirar, pensar e andar, como haveremos de ficar realmente inativos? O yogue que se senta imóvel e com o fôlego contido em samadhi já é outra coisa. Para ir além da ação, precisamos mesclar nossa consciência ao Som Cósmico de AUM, permitindo-lhe agir em nós e a volta de nós até nos confundirmos com essa vibração infinita e depois, ultrapassando-a, nos diluirmos na serena consciência do Espirito Supremo. Mas, na medida em que formos conscientes de nosso corpo, apenas nos ludibriaremos caso tentemos alcançar o estado de inação sem agir. Seremos apenas preguiçosos embotados!
Para chegar a Deus, é necessário primeiro agir sem motivos egoístas: por Deus, não por recompensa pessoal. Com efeito, cumpre estarmos sempre ativos a serviço de Deus para desenvolver essa percepção aguçada que, só ela, nos alça à supraconsciência. Os ociosos não encontrarão Deus!
No entanto, em tudo o que fizermos, convém ter em mente que Deus atua por nosso intermédio. Lave o corpo, alimente-o, dê-lhe descanso - faça o que for preciso para mantê-lo saudável e cheio de energia -, mas pense sempre: 'É a Deus que estou servindo por meio desse instrumento físico.' Até o gozo de um prato saboroso, de uma bela paisagem e das outras boas coisas da vida tem de ser ofertado a Deus. Partilhe esses momentos com Deus em vez de privar-se deles. O que se deve pôr de lado são os pensamentos 'Estou fazendo', 'Estou desfrutando'" e mesmo 'Sou eu quem sofre'.
Também na meditação é importante não levar em conta resultados. A fim de eliminar a tensão e o esforço que sobrevém quando tentamos nos concentrar, eliminemos antes o pensamento 'Estou meditando'. Pensemos, de preferência: 'A Vibração Cósmica está reafirmando, através de mim, sua realidade. Através de mim, o amor cósmico anseia pelo amor de Deus. Através de mim a alegria cósmica se rejubila em nosso Infinito Bem-amado'".
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