"1. “Ele me insultou, zombou de mim, ele me bateu.” Assim
alguém poderá pensar, e, enquanto nutrir pensamentos dessa
espécie, sua ira continuará.
O ódio nunca desaparece, enquanto pensamentos de
mágoa forem alimentados na mente. Ele desaparecerá tão
logo esses pensamentos de mágoa forem esquecidos.
Se o telhado for mal construído ou estiver em mau estado, a chuva entrará na casa; assim, a cobiça facilmente entra
na mente, se ela é mal treinada ou fora de controle.
A indolência nos conduz pelo breve caminho para a
morte e a diligência nos leva pela longa estrada da vida; os
tolos são indolentes e os sábios são diligentes.
Um fabricante de flechas tenta fazê-las retas, da mesma
forma um sábio tenta manter correta a sua mente.
Uma mente perturbada está sempre ativa, saltitando
daqui para lá, sendo difícil de controlar; mas a mente disciplinada é tranquila; portanto, é bom ter sempre a mente sob
controle.
É a própria mente de um homem que o atrai aos maus
caminhos e não os seus inimigos.
Aquele que protege sua mente da cobiça, ira e da insensatez, desfruta da verdadeira e duradoura paz.
2. Proferir palavras agradáveis, sem a prática das boas ações,
é como uma linda flor sem fragrância.
A fragrância de uma flor não flutua contra o vento; mas
a honra de um bom homem transparece mesmo na adversidade do mundo.
Uma noite parece longa para um insone e uma jornada parece longa a um exausto viajante e da mesma forma, o
tempo de ilusão e sofrimento parece longo a um homem que
não conhece o correto ensinamento.
Numa viagem, um homem deve andar com um companheiro que tenha a mente igual ou superior à sua; é melhor
viajar sozinho do que em companhia de um tolo.
Um amigo mentiroso e mau é mais temível que um
animal selvagem, pois o último pode ferir-lhe o corpo, mas o
mau amigo lhe ferirá a mente.
Desde que um homem não controle sua própria mente,
como pode ter satisfação em pensar coisas como 'Este é meu
filho' ou 'Este é o meu tesouro', se elas não lhe pertencem?
Um tolo sofre com tais pensamentos.
Ser tolo e reconhecer que o é vale mais que ser tolo e
imaginar que é um sábio.
Uma colher não pode provar o alimento que carrega.
Assim, um tolo não pode entender a sabedoria de um sábio,
mesmo que a ele se associe.
O leite fresco demora em coalhar e desta mesma forma,
os maus atos nem sempre trazem resultados imediatos. Estes
atos são como brasas ocultas nas cinzas e que, latentes, continuam a arder até causar grandes labaredas.
Um homem será tolo se alimentar desejos pelos privilégios, promoção, lucros ou pela honra, pois tais desejos nunca
trazem felicidade, pelo contrário, apenas trazem sofrimentos.
Um bom amigo que nos aponta os erros e as imperfeições e reprova o mal, deve ser respeitado como se nos tivesse
revelado o segredo de um oculto tesouro.
3. Um homem que se regozija ao receber boa instrução
poderá dormir tranquilamente, pois terá a mente purificada
com estes bons ensinamentos.
Um carpinteiro procura fazer reta a viga; um fabricante de flechas procura faze-las bem balanceadas; um construtor de canais de irrigação procura faze-los de maneira que a
água corra suavemente; assim, um sábio procura controlar a
mente, de modo que funcione suave e verdadeiramente.
Um rochedo não é abalado pelo vento do mesmo modo
que a mente de um sábio não é perturbada pela honra ou
pelo abuso.
Dominar-se a si próprio é uma vitória maior do que
vencer a milhares em uma batalha.
Viver apenas um dia e ouvir um bom ensinamento são
melhores do que viver um século, sem conhecer tal ensinamento.
Aqueles que se respeitam e se amam a si mesmos devem
estar sempre alerta, a fim de que não sejam vencidos pelos
maus desejos. Pelo menos uma vez na vida, devem despertar
a fé, quer durante a juventude, quer na maturidade, quer
durante a velhice.
O mundo está sempre ardendo, ardendo com os fogos
da cobiça, da ira e da ignorância. Deve-se fugir de tais perigos o mais depressa possível.
O mundo é como a espuma de uma fermentação, é
como uma teia de aranha, é como a contaminação num jarro
imundo e por isso deve-se proteger constantemente a pureza
da mente." ... continua.
(A Doutrina de Buda - Bukkyo Dendo Kyokai (Fundação para propagação do Budismo), 3ª edição revista, 1982 - p. 183/186)
Imagem: Pinterest.
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