"Existe um caminho para a verdade? Esta foi uma pergunta feita por Krishnamurti, em 1929. Ao explorar novamente a questão, sem concordar ou discordar com nenhuma das conclusões precedentes, acredito que nós crescemos em compreensão e sabedoria. Assim, vemos investigar o assunto a partir das causas primárias, sem assumir conhecimento prévio, e começando pela observação.
Primeiramente devemos perguntar o que é verdade. No sentido comumente aceito, é uma descrição acertada de algo que verdadeiramente aconteceu, ou que é um fato. Usamos a palavra verdade com sentido diferente quando ela descreve uma lei da natureza ou um relacionamento de causa e efeito. Por exemplo, a lei de gravidade é verificável; ela se confirma como uma relação de causa e efeito em todo tipo de fenômeno à nossa volta. Os estudiosos afirmam a verdade ou falsidade de algo aplicando-lhe lógica e raciocínio; quando deduzem algo absurdo, dizem que a premissa não é verdadeira. Portanto, existe essa maneira de analisar uma afirmação e de chegar a uma conclusão sobre sua veracidade.
A verdade tem um significado totalmente diferente da busca religiosa. Ela está no nível da percepção, não no da ideação. Por exemplo, ao estudar sobre o que Buda disse, e sobre o que vários indivíduos disseram que Buda disse, a pessoa se torna erudita ou professora de filosofia budista; mas o professor não é Buda. A diferença não está nas palestras dadas. O professor pode até explicar certas circunstâncias melhor do que Buda, mas sua consciência não é a consciência de buda. A não ser que haja uma transformação da consciência, não haverá sabedoria, apenas o conhecimento; o conhecimento pode transformar ideias, mas não transformar a consciência.
No campo científico é diferente; pode-se, por exemplo, utilizar uma fórmula matemática sem ter uma percepção profunda de espaço, tempo, matéria e energia. O cientista que descobriu a lei pode ter tido um grande insight, mas os outros não precisam tê-lo para usar a fórmula; ela funciona. Na busca religiosa, porém, ideias e conhecimentos são apenas cinzas, porque a pessoa vive com temores, conflitos, desejos, problemas com o ego. Ela não é sábia. A busca religiosa é uma busca por sabedoria, e isso é diferente de adquirir conhecimento. Portanto, devemos perguntar: existe um caminho para a sabedoria, para a percepção profunda da verdade por nós mesmos, a que Krishnamurti referiu-se como insight?
Há um caminho analítico para o conhecimento e outros caminhos que no campo do conhecimento e da análise; nossa vida diária está no campo do pensamento, planejamento, imaginação e esforço. Mas existe um outro plano de existência, o plano da atenção, sabedoria, visão e percepção, A verdade está nesse plano - no nível da percepção, não da ideação. Há um estranho relacionamento entre esse plano de percepção e insight e o campo de nossas atividades, esforços e realizações diárias.
Sendo assim, como ocorre a percepção, se não há caminho até ela? Na Escola Krishnamurti de Brockwood Park, na Inglaterra, conta-se uma piada. Um estudante pergunta a outro: 'Se a verdade é uma terra sem caminho, como se chega lá?' E o outro menino responde: 'Perdendo-se!' Há verdade nessa afirmação, pois o modo como a mente chega a uma percepção totalmente nova é um mistério. Sem uma percepção assim não há real transformação da consciência, nem mudança real e fundamental no nível do pensamento, da realização e do ego no dia a dia. Compreensão e transformação fundamentais têm origem em outro plano.
Se eu tenho uma percepção profunda e isso traz a realização de uma verdade - não o mero conhecimento dessa verdade -, ela se torna real para mim. Esse salto do conhecimento para a realização da verdade é o que chamamos de insight. O que bloqueia o insight? A verdade existe o tempo todo. Por que não sou capaz de percebê-la? A mente parece ver todos os fenômenos através de um véu, uma tela de ilusões, conclusões, afirmações, opiniões, etc., que chamamos de condicionamento. Cada um de nós está condicionado pela família, cultura e tudo o que nos faz ser o que somos. O condicionamento é mantido na memória, e a pessoa não consegue apagá-lo voluntariamente."
(P. Krishna - Um caminho para a verdade - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 21/22)
Imagem: Pinterest.
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