"Não há dúvida de que o ser humano deve educar-se para perceber o que está além da matéria, assim como deve educar-se para perceber o que está na matéria. Todos sabem que o início da vida de uma criança é um longo processo de adaptação, de aprender a entender o uso dos sentidos em relação às suas áreas especiais e de praticar os exercício difíceis, complexos e de órgãos completamente imperfeitos, em referência à percepção do mundo da matéria. A criança é sincera e trabalha sem hesitação se quiser viver.
Algumas crianças nascidas na alvorada da Terra esquivam-se e recusam-se a enfrentar a imensa tarefa que está diante delas, mas que precisa ser realizada para tornar possível a vida na matéria. Elas voltam para as fileiras dos não nascidos; nós as vemos sacrificar seu múltiplo instrumento, o corpo, e desaparecer no sono. Assim ocorre com a grande multidão da humanidade que triunfou, conquistou e desfrutou do mundo da matéria. Os indivíduos dessa multidão, que aparentemente são tão poderosos e confiantes em seu ambiente familiar, na presença do Universo imaterial são como crianças. E os vemos, de todos os lados, diariamente, e de hora em hora, recusando-se a entrar, afundando-se de novo nas fileiras dos habitantes da vida física, apegando-se às consciências que eles experimentaram e compreenderam. A rejeição intelectual de todo conhecimento puramente espiritual é a indicação mais marcante dessa indolência, da qual os pensadores de todas as posições são certamente culpados.
É evidente que o esforço inicial é pesado, e é claramente uma questão de força, bem como de atividade voluntária. Mas não há como adquirir ou usar essa força quando adquirida, exceto pelo exercício da vontade. É inútil esperar nascer com grandes posses. No reino da vida, não há hereditariedade, exceto aquele do próprio passado do ser humano. Ele precisa acumular aquilo que é dele. Isso é evidente para qualquer observador da vida que usa seus olhos sem estar cego pelo preconceito; e mesmo quando o preconceito está presente, é impossível para o indivíduo sensato não perceber o fato.
É a partir disso que obtemos a doutrina do sacrifício e da redenção, permanecendo através de grandes períodos post-mortem, ou pela eternidade. Essa doutrina é uma maneira estreita e pouco inteligente de afirmar o fato na Natureza, aquilo que um homem semeia, ele colherá. A grande inteligência de Swedenborg viu o fato tão claramente que decidiu por endurecer-se em relação à essa existência em particular; seus preconceitos criando para ele a impossibilidade de perceber a chance de uma nova ação, quando não há mais o mundo sensível para atuar. Ele era muito dogmático para a observação científica e não via que, como a primavera segue o outono, e o dia a noite, o nascimento deve seguir a morte. Ele chegou muito perto do limiar dos Portais de Ouro, e foi além do mero intelectualismo, apenas para fazer uma pausa e dar um passo adicional. O vislumbre que obteve do além da vida pareceu-lhe conter o Universo; e no fragmento de sua experiência, ele construiu uma teoria que incluía toda a vida, recusando-se a progredir além desse estado ou em qualquer possibilidade fora desse. Esta é apenas outra forma de tarefa monótona e árdua. Mas Swedenborg está em primeiro lugar diante da multidão de testemunhas para o fato de que os Portais de Ouro existem e podem ser percebidos das altas regiões do pensamento, e ele nos lançou uma leve onda de sensações a partir de seu limiar."...continua.
(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 52/56)
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