"Esta pergunta, filha da tristeza e do aborrecimento, que nos parecem constituir uma parte essencial do espírito do século em que vivemos é de fato, uma questão que deve ter sido tratada em todas as épocas. Se com a inteligência nos dirigimos para trás, através da história, sem dúvida encontraremos que tem sido feita sempre quando a flor da civilização se tinha aberto completamente e quando suas pétalas com dificuldade se mantinham unidas. A porção natural do homem tem alcançado então sua maior altura; tem levado rodando a pedra até o cimo do monte da dificuldade, só para contemplá-la a rodar novamente para baixo, logo que tem alcançado o cume, como no Egito, em Roma, na Grécia. Porque este trabalho inútil? Não é suficiente para produzir um desalento e um mal-estar impossíveis de descrever, estar levando a cabo um trabalho, só para vê-lo destruído? Depois de tudo, isto é o que o homem tem feito através de toda a história, o mais longe que nossos limitados conhecimentos podem alcançar? Um cimo existe ao qual chega por meio de imensos e coletivos esforços, e no qual resplandece a mais brilhante florescência de todas as qualidades intelectuais, mentais e materiais de sua natureza. O cúmulo da perfeição sensual é alcançado. E então sua energia se debilita, seu poder diminui e desce através do desalento e da saciedade até a grosseria. Porque não permanece no cume da montanha à qual chegou e olhando os longínquos montes não resolve escalar suas maiores alturas? Porque é ignorante e vendo um grande resplendor à distância, baixa os olhos deslumbrados, e volta atrás para continuar na sombria encosta da sua montanha familiar. Todavia, existiu e existe alguém suficientemente decidido para olhar, sem baixar os olhos e para decifrar alguma coisa de que nele mesmo oculta. Poetas e filósofos, pensadores e mestres, todos aqueles que são os 'irmãos maiores da raça'; têm gozado desta vista de tempos a tempos e alguns deles têm reconhecido, no resplendor confuso, o contorno das Portas de Ouro.
Estas portas nos admitem ao santuário da mesma natureza do homem, ao lugar de onde sua vida-poder procede e onde ele é sacerdote do santuário da vida. Que é possível entrar, que é possível passar através destas portas um ou dois, nos têm demonstrado. Platão, Shakespeare e uns poucos mais de fortes, têm passado por elas e em enigmática linguagem nos têm falado das proximidades das mesmas. Quando o homem forte cruzou o limiar, já não se diz nada mais aos que do outro lado permanecem. E até as palavras que pronuncia, quando ainda por elas não passou, estão cheias de mistério, que unicamente os que seguem seus passos podem ver brilhar a luz nas mesmas."
(Mabel Collins - Pelas Portas de Ouro - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 18/19)
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