"O que é a nossa vida senão uma dança de formas transitórias? Não está tudo sempre mudando: as folhas nas árvores do parque, a luz em seu quarto enquanto você lê este livro, as estações, o clima, as horas do dia, as pessoas passando por você na rua? E nós? Tudo que fizemos no passado não parece agora um sonho? Os amigos com os quais crescemos, os fantasmas de nossa infância, os pontos de vista e opiniões que uma vez defendemos com tamanha e sincera paixão: deixamos tudo isso para trás. (...)
As células do nosso corpo estão morrendo, os neurônios do nosso cérebro estão se deteriorando. Até a expressão em nosso rosto está sempre mudando, dependendo do nosso humor. O que nós chamamos nossa personalidade básica é apenas um 'fluxo mental', nada mais. Hoje nos sentimos bem porque as coisas estão indo bem; amanhã sentiremos o contrário. Para onde foi esse sentir-se bem? Novas influências tomaram conta de nós à medida que as circunstâncias mudaram: somos impermanentes, as influências são impermanentes, e não há em parte alguma algo sólido ou duradouro a ser apontado.
O que pode ser mais imprevisível do que nossos pensamentos e emoções: você tem qualquer ideia do que vai pensar ou sentir nos próximos minutos? Nossa mente, de fato, é tão vazia, tão impermanente e transitória quanto um sonho. Olhe para um pensamento, como ele vem, fica e vai. O passado é o passado, o futuro ainda não surgiu, e mesmo o pensamento presente, como nós experimentamos, torna-se logo o passado.
A única coisa que realmente temos é o presente, é o agora.
Algumas vezes, quando ensino essas coisas, depois alguém se aproxima de mim e diz: 'Tudo isso parece tão óbvio! Eu sempre soube disso. Diga alguma coisa nova'. Respondo então: 'Você realmente entendeu e realizou a verdade da impermanência? Você de fato a integrou em cada um dos seus pensamentos, respirações e movimentos a tal ponto que sua vida se transformou? Faça a si mesmo estas duas perguntas: lembro a cada instante que estou morrendo, e todos e tudo ao meu redor também, e desse modo trato todos os seres a todo momento de forma compassiva? Meu entendimento da morte e da impermanência tem sido tão forte e urgente para mim a ponto de que dedique cada segundo da existência à busca da iluminação? Se você pode responder 'sim', a ambas as perguntas, então você compreendeu de fato a impermanência."
(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 1999 - p. 48/49)
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