"Embora falemos com frequência sobre a nossa mente, se alguém
nos perguntasse 'o que é a mente?', não teríamos uma resposta
clara. Algumas pessoas dizem que o nosso cérebro é a mente,
mas isso é incorreto. O cérebro não pode ser a mente, porque o
cérebro é, apenas, uma parte do corpo – podemos ver o cérebro
diretamente com os nossos olhos e podemos, até mesmo, fotografá-lo. Porém, a mente não é uma parte do corpo – ela não
pode ser vista com os nossos olhos e não pode ser fotografada.
Portanto, fica claro que o cérebro não é a mente. É apenas nos
ensinamentos de Buda que podemos encontrar uma resposta
clara para a pergunta: 'o que é a mente?'.
Buda deu explicações claras e detalhadas sobre a mente, que
podemos ler a seguir. A mente é algo cuja natureza é vazia, semelhante ao espaço; a mente nunca teve características físicas,
formato ou cor; e a mente atua percebendo e compreendendo
objetos – essa é a sua função. A mente tem três níveis diferentes:
denso, sutil e muito sutil. Durante nossos sonhos, temos uma
consciência onírica, por meio da qual vários tipos de coisas sonhadas aparecem para nós. Essa consciência é uma mente sutil,
porque é difícil de ser identificada, ou reconhecida. Durante o sono profundo, temos apenas consciência mental, que percebe
vacuidade, unicamente. Essa consciência é denominada 'clara luz do sono' e é a mente muito sutil, o que significa que essa
mente é extremamente difícil de ser identificada, ou reconhecida.
Durante o período em que estamos acordados, temos uma
consciência do estado acordado (ou da vigília); por meio dela, vários tipos de coisas do estado da vigília aparecem para nós. Essa
consciência é a mente densa, o que significa que ela não é difícil de ser identificada. Quando dormimos, nossa mente densa (a
consciência do estado da vigília) dissolve-se em nossa mente sutil
do sono. Ao mesmo tempo, todas as nossas aparências do mundo
do estado acordado tornam-se não existentes; e, quando experienciamos o sono profundo, nossa mente sutil do sono dissolve-se em nossa mente muito sutil do sono: a clara luz do sono. Nessa etapa, ficamos parecidos com uma pessoa que morreu. Então,
porque nossa conexão cármica com esta vida é mantida, nossa
mente densa (a consciência do estado da vigília) surge novamente
a partir da clara luz do sono, e as várias coisas do estado da vigília
aparecem de novo para nós.
O processo de dormir é muito parecido com o processo de
morrer. A diferença entre eles é que, quando estamos morrendo,
nossas mentes densa e sutil se dissolvem na nossa mente muito
sutil da morte, conhecida como 'a clara-luz da morte'. Depois,
porque nossa conexão cármica com esta vida chegou ao fim,
nossa mente muito sutil deixa este corpo, vai para a próxima
vida e ingressa em um novo corpo; então, todos os diversos tipos de coisas da próxima vida irão aparecer para nós. Tudo será
totalmente novo.
Com essa explicação sobre a mente podemos compreender,
de modo bastante claro, a existência de nossas vidas futuras, de
maneira que podemos preparar, a partir de agora, a felicidade e a
liberdade de nossas incontáveis vidas futuras por meio de praticarmos os ensinamentos de Buda – o Dharma. Não há nada mais
significativo do que isso. Nossa vida atual é apenas uma única vida, mas nossas vidas futuras são incontáveis. Portanto, não há
dúvida de que as vidas futuras são mais importantes que esta vida."
(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno - Ed. Tharpa Brasil, 3ª edição, 2015 - p. 10/12
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