"O nosso nascimento também dá origem aos sofrimentos da morte.
Se, durante a nossa vida, tivermos trabalhado arduamente para
adquirir posses, e se tivermos nos tornado muito apegados a elas,
experienciaremos grande sofrimento na hora da morte, pensando: 'Agora, tenho de deixar todas as minhas preciosas posses para
trás'. Mesmo agora, achamos difícil emprestar algum dos nossos
mais preciosos bens, quanto mais dá-lo! Não é de surpreender
que fiquemos tão infelizes quando nos damos conta de que, nas
mãos da morte, temos de abandonar tudo.
Quando morremos, temos de nos separar até mesmo dos
nossos amigos mais próximos.Temos de deixar nosso companheiro ainda que tenhamos estado juntos durante anos, sem
passar sequer um dia separados. Se formos muito apegados aos
nossos amigos, experienciaremos grande sofrimento na hora da
morte, mas tudo o que poderemos fazer será segurar suas mãos.
Não seremos capazes de parar o processo da morte, mesmo se
eles implorarem para que não morramos. Geralmente, quando
somos muito apegados a alguém, sentimos ciúme caso ele (ou
ela) nos deixe sozinhos e passe o seu tempo com outra pessoa;
mas, quando morrermos, teremos de deixar nossos amigos com
os outros para sempre. Teremos de deixar todos, incluindo nossa família e todas as pessoas que nos ajudaram nesta vida.
Quando morrermos, este corpo que temos apreciado e cuidado de tantas e variadas maneiras terá de ser deixado para trás.
Ele irá se tornar insensível como uma pedra e será sepultado
sob a terra ou cremado. Se não tivermos a proteção interior
da experiência espiritual, na hora da morte experienciaremos
medo e angústia, assim como dor física.
Quando a nossa consciência deixar nosso corpo na hora da
morte, todas as potencialidades que acumulamos em nossa mente, por meio das ações virtuosas e não virtuosas que fizemos, irão
conosco. Não poderemos levar nada deste mundo além disso. Todas as outras coisas irão nos decepcionar. A morte interrompe
todas as nossas atividades – as nossas conversas, a nossa refeição,
o nosso encontro com amigos, o nosso sono. Tudo chega ao fim
no dia da nossa morte e temos de deixar todas as coisas para trás,
até mesmo os anéis em nossos dedos. No Tibete, os mendigos
carregam consigo um bastão para se defenderem dos cachorros.
Para compreender a completa privação provocada pela morte
devemos lembrar de que, na hora da morte, os mendigos têm
de deixar até esse velho bastão, a mais insignificante das posses
humanas. Ao redor do mundo, podemos ver que os nomes esculpidos em pedra são a única posse dos mortos."
(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno - Ed. Tharpa Brasil, 3ª edição, 2015 - p. 53/54)
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