"Buda disse que, enquanto os seres sencientes estiverem sob a influência da ignorância, terão de experienciar as quatro características do samsara: 1) o nascimento conduz inevitavelmente à morte; 2) aquilo que é reunido, por fim, deve se dispersar; 3) aqueles que ocupam posições elevadas, por fim, caem em estados inferiores; 4) todos os encontros, por fim, resultam em separação. Devemos examinar essas quatro características com muito cuidado. Quem quer que possua um status elevado, uma boa reputação ou riqueza verá isso, por fim, diminuir, decair e, em última instância desaparecer. Existe algum real prazer a ser extraído dessas aquisições e alguma delas pode nos ajudar na hora da morte? Quem pode nos ajudar nessa hora - nosso cônjuge, amigos, familiares, nossas posses ou o governo do nosso país? Pensar que viveremos neste mundo para sempre é enganar-se grosseiramente. Este mundo não possui moradores permanentes. Dos bilhões de indivíduos que hoje estão vivos, quem ainda estará aqui em cem anos? Somos simplesmente viajantes passando por este mundo e, como viajantes, devemos pensar em nos abastecer corretamente para a nossa jornada. O que precisamos levar conosco? Nenhum dos prazeres temporários antes mencionados terá qualquer valor na hora da morte; somente a prática do Darma - o treino, o controle e a purificação da nossa mente - pode nos proteger do sofrimento.
Algumas pessoas rezam para que sejam capazes de praticar o Darma na sua próxima vida, pois acham que não têm a oportunidade de praticar agora. Isso é tolice. Tivemos um renascimento humano perfeito, encontramos os ensinamentos mahayana e temos a rara oportunidade de praticar o Darma. Se não aproveitarmos essa oportunidade agora, quando reencontraremos outro renascimento humano perfeito no futuro? É raro que um Buda apareça neste mundo, raro ter um precioso renascimento humano plenamente dotado e raro gerar fé num ser iluminado. Portanto, visto que já obtivemos todas essas circunstâncias preciosas, devemos praticar o Darma agora.
Não devemos desperdiçar este precioso renascimento humano, conquistado a custa de muito esforço, em nome do conforto da vida atual. Em vez disso, precisamos usar essa rara oportunidade para gerar a preciosa mente do bodichita. Atualmente temos visão clara, audição acurada, mente lúcida e boa saúde. Se não praticarmos o Darma agora, quando tivermos oitenta ou noventa anos, se é que viveremos até lá, será tarde demais para fazê-lo. Ainda que tenhamos a intenção de praticar o Darma, nossos sentidos estarão em declínio, a nossa mente instável e o nosso corpo doente. Como diz um provérbio tibetano: 'Se não praticares o Darma enquanto és jovem, quando a velhice chegar, te arrependerás'.(...)"
(Geshe Kelsang Gyatso - Contemplações Significativas - Ed. Tharpa Brasil, 2009 - p. 151/152)
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