"É um estado hipnótico ²³ em que o ego sai de seu corpo físico por sua própria vontade ou artificiosamente expulso pelos procedimentos de mesmerismo, sugestão, magnetismo, histeria, etc. ²⁴ Difere o êxtase do sono ordinário em que durante este o ego queda magneticamente ligado ao corpo físico, de modo que, em caso de necessidade pode reincorporar-se o ego. Quando uma pessoa adormecida desperta subitamente em estado de terror, o coração palpita com violência, e o corpo se banha de suor, e parece como se uma entidade repugnante se houvesse acercado do corpo adormecido com o intento maligno de se aproveitar dele e sinistramente nele influenciar, e que a consciência remanescente no corpo enviará aviso ao ego em demanda de amparo e proteção. Então o ego se apressa a voltar, recobra a posse do corpo e o terror se desvanece. Ademais, no sono ordinário, o toque ou sacudidela externa do corpo, um ruído estrepitoso ou a repentina claridade de uma luz servem de chamada ao ego ausente. Porém, em estado de êxtase, não existe ligação magnético entre o corpo físico e o ego, pelo que este não pode receber chamada alguma. Um dos perigos do êxtase mesmérico, sugerido por um hipnotizador ignorante das condições suprafísicas, é que o corpo fica desprovido de sua instintiva faculdade de reclamar auxílio em caso de perigo, nem tampouco é capaz de se proteger a si mesmo, abroquelando-se num envoltório de magnetismo positivo.
Quando alguém que acaba de perder seu corpo físico pela morte e ansia veementemente voltar à terra, pode aproveitar-se de um corpo físico vago de seu proprietário e sem meios de se comunicar com ele. Os psicólogos modernos chamam a este fenômeno 'desdobramento de consciência', e os antigos o chamavam 'possessão'. Chamem-no como quiser, é sumamente prejudicial para o intruso e extremamente desastroso para o legítimo proprietário e seus inimigos e amigos, para quem quer que o encontre inteiramente trocado em pensamentos, emoções, recordações e caráter; e se o fenômeno ocorreu fora de sua casa, tem de lamentar a repentina e, para eles, inexplicável desaparição de seu amigo ou parente, com todas as inquietudes e ansiedades próprias do caso.
Estas alterações ocorrem, com mais frequência nos casos de epilepsia e catalepsia, e então acontece trocar o caráter da pessoa atacada até o ponto de perder por completo a memória de sua anterior personalidade. Esta perca se chama erroneamente as consequências do ataque. ²⁵ (...)"
²³. A palavra hipnótico se refere adjetivamente a tudo quanto esteja relacionado com o sono, e não se verifica em sua reta e etimológica acepção que forçosamente deve ser um estado produzido por sugestão magnética. Todos os chamados hipnotizadores provocam o sono em seus 'subjects', porém, nem todos os estado de sono ou hipnótico provêm da ação dos hipnotizadores. O vulgo tem tergiversado o sentido reto da palavra hipnótico, e fala-se do sono hipnótico sem advertir a enormidade da redundância, pois o hipnótico já por si implica a ideia de sono.
²⁴. Ao tratar da mediunidade, explicaremos a diferença entre o êxtase e a anestesia, em que também o corpo físico queda inconsciente pela ação de certas substâncias como o éter, o clorofórmio e outros entorpecentes.
²⁵. O leitor que se interessar por este ponto encontrará muitos casos classificados com a denominação geral de 'desdobramento da consciência'.
Annie Besant - A Vida do Homem em Três Mundos - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 77/79)
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