"Ao traçar-se a circunferência de um círculo, pode-se começar por qualquer de seus pontos e tornar a ele depois da volta completa. O ponto de partida é convencional. Assim também o círculo ou ciclo de uma vida humana nos três mundos pode ser começado em qualquer dos seus pontos. Não obstante, é costume tornar-se por início o nascimento na terra com o corpo físico, pois tem este a vantagem de ser sólido,¹¹ tangível e mui conhecido do leitor. Porém existe a desvantagem de se considerar os corpos do homem em ordem inversa à do revestimento, de modo que à primeira vista parece que o corpo mental, o mais interno do três, começa a atuar depois da morte física, em vez de atuar, segundo o faz incessantemente,
durante toda a vida no corpo físico e depois da morte. Começando a contar o ciclo de vida com o nascimento na terra, dá-se à morte física uma excessiva importância e parece uma quebra ou interrupção da vida do homem, como se entrasse ao morrer em uma estranha ou ignorada região, em vez de um país, já por ele muito conhecido.
Para evitar este inconveniente, parece-me preferível tomar outro ponto de partida e considerar os corpos do homem na mesma ordem em que se vá revestindo deles, isto é, ao começar em novo ciclo de vida. Por isto defini, no capítulo anterior, o ciclo da vida dizendo que abrange 'desde o começo de uma descida ao mundo físico até abandonar o mundo celeste para retornar ao físico'. Cada vida humana percorre a circunferência de um círculo circunscrito aos três referidos mundos; e, portanto, pode escolher-se para ponto inicial qualquer parte da circunferência. Eu, por exemplo, escolho aquela em que o homem se reveste do primeiro corpo da sua nova peregrinação, ou seja, o corpo mental, porque muito embora seja um novo ponto de partida, facilita de modo mais claro a compreensão do estudo.
Possivelmente o leitor prufundamente científico ache estranho o emprego da palavra 'círculo', porque esta figura geométrica, como sabemos, tem por limite a curva chamada circunferência, que contorna e se completa ao voltar ao ponto de partida. Portanto, a vida humana resultaria neste caso algo semelhante a uma roda sem raios na qual o homem giraria repetidamente sem resultado algum. O reparo é justo, porque a evolução do homem não pode ser representada graficamente por uma série de círculos concêntricos e sim por uma espiral. A curva não se fecha em si mesma e sim ascente até chegar mais além do ponto inicial; e, portanto, o novo ciclo ou período de vida começa num ponto situado em nível superior ao da vida precedente, de modo que a cada nascimento na terra o homem traz mais do que trazia no nascimento anterior. O ciclo de vida é como os anos na terra, que sempre são os mesmos na sucessão dos meses e estações, e, no entretanto, o corpo, as emoções e a mente da pessoa são diferentes de ano por ano, ao par dos períodos naturais de crescimento e transição."
¹¹. Sem dúvida esta solidez não é absoluta, mas apenas relativa aos corpos astral e mental. (N. do T.)
(Annie Besant - A Vida do Homem em Três Mundos - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 27/29)
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