"O rigor e a dor de uma crise não são em absoluto determinados pelo fato objetivo. Penso que a maioria das pessoas pode verificar isso facilmente. A maioria das pessoas passou por mudanças sérias, exteriormente. Você pode ter perdido uma pessoa amada, pode ter-se defrontado com mudanças as mais drásticas e com fatos objetivamente traumáticos - guerras, revolução, perda de fortuna e habitação, doença. Entretanto, interiormente, você pode ter-se agitado e sofrido menos do que em situações que exteriormente não se poderiam comparar com a agitação de seus sentimentos interiores. Podemos assim dizer que uma crise exterior pode deixá-lo interiormente mais tranquilo do que uma crise interior. Às vezes o fato objetivamente mais traumático fere menos do que o fato objetivamente menos traumático. Na primeira instância, a mudança necessária ocorre num nível externo, e seu ser interior aceita com mais facilidade, ajusta-se ao melhor, e encontra um novo modo de lidar com ela. No segundo caso, a necessidade de mudança interior esbarra numa resistência maior. Sua interpretação subjetiva do fato torna a crise desproporcionalmente dolorosa. Às vezes uma pessoa procura encontrar explicações racionais para uma intensidade emocional peculiar dessas - explicações que podem ser chamadas de racionalizações. Às vezes tanto as mudanças e crises interiores como as exteriores encontram a mesma atitude interior.
Quando o processo da crise é aceito e não é mais obstruído, quando a pessoa se põe a andar junto com ele em vez de lutar contra ele, o alívio chega de modo relativamente rápido. Quando o pus escorre do abscesso e as atitudes são ajustadas, a autorrevelação traz paz; a compreensão proporciona nova energia e vitalidade. O processo de cura está em andamento, mesmo quando o abscesso estoura.
A negação desse processo, a atitude interior prolonga a agonia, em meio à qual se diz: 'Eu não quero passar por isso. Tenho de passar por isso? Isto, isso e aquilo está errado com os outros. Se não estivesse, eu não precisaria passar pelo que passo agora.' Essa atitude procura evitar a erupção necessária do abscesso, que consiste num emaranhado doloroso de energia negativa sempre crescente cuja força torna cada vez mais difícil alterar o curso. O ciclo negativo continuado e sua repetição vã e automática de que a consciência não é capaz de parar produzem a desesperança. A repetição e a desesperança podem parar somente através de sua atitude de não mais negar a mudança necessária.
Toda experiência negativa, todo sofrimento, é resultado de uma ideia errada. Um aspecto importante desse trabalho é a articulação dessas ideias. E, entretanto, quantas vezes todos vocês ainda deixam de perceber isso por não manterem em mente esses fatos incontestáveis quando se defrontam com uma situação de infelicidade?
(Eva Pierrakos - O Caminho da Autotransformação - Ed. Cultrix, São Paulo, 2006 - p. 161/162)
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