"(3:33) Mesmo o sábio age em consonância com os ditames de sua própria natureza. Todos os seres vivos obedecem às prescrições da Natureza. De que valeria a mera supressão?
Krishna ofereceu ao mundo, por meio do Bhagavad Gita, não apenas as verdades supremas, expressas de maneira abrangente e pormenorizada, mas um ensinamento de extremo bom senso. A trigésima terceira estrofe é um belo exemplo da sensatez de suas lições. O Senhor diz a Arjuna: 'Aceita as coisas como são.' A história - e talvez a história da religião, em especial - está repleta de figuras que tentam convencer os outros a serem diferentes do que sempre foram. Moveram-se guerras, infligiram-se perseguições, atiçaram-se motins para obrigar povos inteiros a pensar e agir como alguém julgava que devessem agir e pensar. Krishna, nessa passagem, diz com muita propriedade: 'Aceita o que é, não o que supunhas dever ser.'
Todo sofrimento humano prende-se à ideia simplória de que as coisas devem ser diferentes do que são. Mesmo uma dor física intensa pode ser transcendida quando a aceitamos pelo que é. Tente isto: primeiro, reconheça com serenidade sua existência. Depois, concentre-se no núcleo dessa dor. Por fim, deixe-a ir, pura e simplesmente! Verá que, aceitando-a sem restrições, ganha forças para liberá-la.
Não dê aos outros licença para lhe prescreverem o que, aos olhos deles, você deve ser. Por outro lado, nunca dispense arrogantemente os seus conselhos, embora permaneça sempre fiel à sua própria natureza. Você nunca se transformará por supressão. A mudança verdadeira só se obtém por transcendência. Se há em você uma qualidade que não goste, procure elevar a consciência a um nível superior. Se achar que de modo algum conseguirá ignorar uma dor, procure então chegar ao âmago dessa dor. Ao fazer isso mentalmente, ofereça-a a Deus. Se praticar a sugestão com um vigoroso esforço de vontade, verá que poderá tornar-se, num instante, uma pessoa muitíssimo diferente."
(A Essência do Bhagavad Gita - Explicado por Paramhansa Yogananda - Evocado por seu discípulo Swami Kriyananda - Ed. Pensamento, São Paulo, 2006 - p. 174)
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