Quem deseja se iluminar deve estar preparado para abandonar as 'considerações prudentes do mundo' e seguir o impulo interno da alma. Por ter trabalhado com afinco, um adepto chega a ver, sentir e viver a própria origem de todas as verdades fundamentais. Sua consciência é una com toda a vida; portanto, ele entende todas as coisas em sua essência e não precisa se esforçar para distinguir entre o real e o irreal. Por isso, um verdadeiro instrutor nunca encoraja seus discípulos a prosseguirem com seus desejos mundanos, nem promete recompensas. Da mesma forma, o adepto nunca mantém o outro sob seu domínio.
Todo o rio da vida flui em uma direção, que Krishnamurti chamou de o 'despertar da inteligência'. A evolução representa o desenvolvimento do organismo físico para que as faculdades da consciência possam florescer. O adepto, completamente cônscio desse propósito, em nenhum momento tenta controlar a consciência do discípulo, nem exige dele uma obediência cega. Ele guia, mas espera que cada pessoa aja como pensa que é certo, por que é responsável por si mesma e aprende até mesmo com seus erros.
Dessa maneira, a inteligência do discípulo se desenvolve, e sua capacidade de discernimento cresce. Ele deixa de ser dependente. Nos primeiros tempos da Sociedade Teosófica, um adepto disse: 'Nós aconselhamos, nunca ordenamos.' Todos os que entendem a natureza do progresso espiritual seguem esse exemplo: eles discute, indicam, mas nunca dizem o que o outro deve ou não fazer. Um deles escreveu: 'Os aprendizes, por uma ideia errada sobre o nosso sistema, muitas vezes esperam e aguardam ordens, desperdiçando um tempo precioso.' (...)"
(Radha Burnier - O adepto e o discípulo - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 38)
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