"Duas pessoas conviveram dentro de você durante toda sua vida. Uma é o ego, tagarela, exigente, histérico, calculista; a outra é o ser espiritual oculto, cuja voz sábia e serena você raramente ouviu e, se o fez, não a atendeu. À medida que ouve mais e mais os ensinamentos, que os contempla e integra em sua vida, essa voz interior, sua sabedoria inata do discernimento, chamada no budismo de 'sabedoria discriminativa', é despertada e fortalecida, e você começa a distinguir sua orientação das diferentes vozes clamorosas e sedutoras do ego. A lembrança da sua real natureza, com todo seu esplendor e confiança, começa a retornar para você.
Você descobrirá, de fato, que revelou em si mesmo o seu guia sábio. Já que ele ou ela o conhece por dentro e por fora, uma vez que é você mesmo, seu guia pode ajudá-lo, com clareza e disposição de espírito cada vez maiores, a vencer todas as dificuldades dos seus pensamentos e emoções. Seu guia pode também ser uma presença contínua, jovial, terna, às vezes provocante e brincalhona, que sabe sempre o que é melhor para você e o auxiliará e encontrar mais e mais caminhos para sair da sua obsessão com as reações habituais e emoções confusas. À medida que a voz da sua sabedoria discriminativa se torna mais forte e clara, você começará a distinguir entre a verdade que ela traz e as várias imposturas do ego, e será capaz de ouvi-la com discernimento e confiança.
Quanto mais ouvir esse guia sábio, mais facilmente você mesmo estará preparado para mudar seus maus-humores, ver através deles e até rir-se deles pelos absurdos dramas e ridículas ilusões que criam. Gradualmente se descobrirá capaz de libertar-se mais depressa das emoções negativas que governaram sua vida, e essa habilidade é o maior de todos os milagres. (...)"
(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 163/164)
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