"As abstinências devem ser praticadas por meio da percepção e compreensão da nossa conduta e das nossas motivações. A não falsidade representa, além da eliminação de toda espécie de dissimulação, a capacidade de ver as coisas como elas são, e não como nós as projetamos. Mehta afirma que as projeções surgem de um passado mal resolvido; as frustrações das experiências passadas se projetam em situações novas e nos impedem de viver livremente cada momento da vida.
Não roubar abrange todas as formas de imitação, ainda que sutis. Quando estamos insatisfeitos com o que temos ou somos, passamos a desejar ou a imitar a condição de outras pessoas. Esse comportamento vem do sentimento de estarmos psicologicamente incompletos. Quando não desejamos ter o que não é nosso ou ser o que não somos, experimentamos um estado de preenchimento psicológico, de satisfação pela vida.
A não indulgência representa o abandono da busca de prazer. Isso não significa negar o prazer, mas parar de correr atrás dele. O prazer do paladar, por exemplo, não é nenhum mal em si; entretanto, ficar o tempo inteiro pensando em comida é ruim, pois gera uma distorção na mente que a impede de viver o momento presente. A não indulgência é viver o prazer quando ele acontece, e depois esquecê-lo.
A não possessividade é o desapego de todos os tipos de objetos. Isso não significa ser um mendigo, mas possuir as coisas sabendo que elas são transitórias e amanhã podem não estar mais conosco. Por objetos entendemos não apenas os bens materiais, mas todas as nossas condições de vida, que podem mudar a qualquer momento. Viver em função de memórias de fatos passados também é uma espécie de apego; é ficar preso a um conteúdo da mente."
(Cristina Szynwelski - O yoga e a moral espiritual - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 32)
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