"Todos os nossos esforços conscientes são direcionados à busca da felicidade, mas a infelicidade surge da própria tensão desses esforços. Conseguimos nos manter infelizes a maior parte do tempo. O dinheiro (ou a falta dele) é uma das maiores causas de infelicidade. O rei Abdul Rahamn III, o maior dos reis Omayyad da parte moura da Espanha, era rico, poderoso, temido e respeitado em todo o mundo ocidental. Sua bela capital, Córdoba, era orgulho e inveja de toda a Europa. Ele reinou por mais de cinquenta anos, mas, durante esse longo período, lembrava-se de ter sido verdadeiramente feliz apenas por catorze dias.
O desejo é a principal causa da infelicidade. Os objetos mundanos de desejo - dinheiro, posição, posses, fama - são amaldiçoados por uma doença peculiar; a dualidade. Sua natureza projeta duas reações opostas, como dor e prazer, estados agradáveis e desagradáveis se alternam na mente. Por isso, a satisfação de um desejo nunca leva a um estado de felicidade ininterrupta. Um exemplo é o dinheiro, que pode comprar prazeres, mas traz preocupações sobre como investí-lo e multiplicá-lo.
Quando desejamos algo, forjamos um elo com o objeto desejado. Por isso, no momento em que cobiçamos alguma coisa, perdemos, na mesma medida, a nossa liberdade. Não é necessário explicar que a escravidão anula a alegria da vida; apenas as criaturas livres podem ser verdadeiramente felizes.
Há solução para esse problema universal? Segundo o Bhagavad Gita (v. 23), 'apenas aquele que consegue manter sob controle (...) a pressão exercida pelo desejo e o ódio pode ser feliz.' Essa fórmula para a felicidade é simples e lúcida, sem ambiguidades. Se aprendermos a controlar nossas paixões, podemos ser felizes aqui e agora. A dificuldade é como fazer isso
Portanto, a atitude básica a ser adotada é restringir o desejo ao mínimo necessário. Obviamente, as necessidades mínimas para uma vida razoável devem ser atendidas. Muito embora os passos para obtê-las possam ser tecnicamente classificados como desejo, os filósofos não se preocupam muito com eles.
Abandonar o desejo pode soar como matar a alegria, mas não é assim. Algumas pessoas mais felizes do mundo foram homens santos que limitaram seus desejos. O segredo é desfrutar de tudo sem tentar possuir nada. Se Deus nos equipou com cinco sentidos e uma mente ativa, certamente não foi para amordaçá-los. O problema surge apenas quando queremos explorar a natureza em nosso benefício, excluindo os outros.
Quanto mais deixarmos de olhar em torno com um sentido de posse, quanto mais meditarmos sobre a natureza interna das coisas, maior será a felicidade. A prática da concentração contemplativa pode nos levar a um estágio onde, sem esforço consciente, a mente permanece em beatitude enquanto realizamos trabalhos mundanos com a maior eficiência. Esse é o estágio do indivíduo liberado (jivanmukta), mesmo vivendo na carne; ele possui a felicidade ilimitada."
(A. V. Subramanian - Felicidade aqui e agora - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 15)
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