"Durante uma palestra, Krishnamurti observou que a plateia estava desatenta e perguntou: 'Em que vocês estão interessados?' A conclusão foi que cada pessoa estava interessada em si mesma. Com poucas excessões, todos tendem, consciente ou inconscientemente, a ser egocêntricos, ou seja, a imaginar-se no centro. Mesmo ao imaginar uma bela paisagem, nós a vemos a partir do nosso ponto de vista e nos colocamos no centro.
Podemos dizer que essa tendência é simplesmente humana. Mas uma criancinha ainda não tem um sentimento definido do 'eu'. Ela às vezes fala de si mesma na terceira pessoa: 'Ana está com sede.' Com o tempo ela desenvolve o sentimento do 'eu'. Será que aprende com os pais ou com o ambiente? Ou esse sentimento será inato?
De qualquer forma, podemos ver facilmente as razões psicológicas dessa tendência. Nós nos colocamos no centro para nos proteger e nos autoafirmar. Temos medo de ser magoados ou desaparecer no anonimato. Esse medo significa que percebemos as pessoas e coisas de acordo com a nossa imaginação; imaginamos que elas podem nos magoar ou nos ignorar. O medo surge da noção de que há pessoas que não são 'nós', que estão separadas de nós.
Certamente é o caso no nível físico. Temos um corpo físico definido e aparentemente sólido. Sabemos que ele continuamente troca partículas atômicas com o ambiente, mas como não vemos isso acontecer, não conseguimos realmente acreditar. Estamos sujeitos à ilusão que nos leva a cuidar do corpo, a providenciar alimento, teto etc, se tivermos que permanecer no plano físico. Fisicamente percebemos que somos entes separados do ambiente; somos obrigados a colocar nosso corpo no centro para cuidar dele.(...)"
(Mary Anderson - Como superar o egocentrismo - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 38)
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