"Viajamos à lua, descobrimos evidência de água em Marte, escalamos o Monte Everest e, no fundo dos oceanos, descobrimos formas de vida desconhecidas. Mas há uma outra busca que é a aventura última do ser humano. As questões que caracterizam essa busca transcendem o mundo físico, podem confundir a ciência moderna e não podem ser respondidas por meio de medições físicas, câmaras sofisticadas ou qualquer tecnologia moderna.
O professor Kurt Dressler definiu essa procura como 'a busca fundamental do ser humano por sua essência e o fim de nossa enigmática existência num mundo multifacetado'. Ela pode nos levar à religião, à filosofia ou à ciência. Mas no fim é também uma busca de nossa natureza mais profunda, refletida cada vez mais em nossa espiritualidade emergente.
O que é uma sociedade? Falando simplesmente, é uma comunidade, um grupo de pessoas. Quando consideramos a sociedade humana podemos reduzi-la da complexidade de muitas instituições e elementos culturais aos seus alicereces essenciais, isto é, aos 6,8 bilhões de pessoas no planeta. O filósofo J. Krishnamurti descreveu a sociedade fundamentalmente como relacionamento: 'Os seres humanos em todo o mundo tentaram criar uma sociedade justa, exterior. Mas a sociedade é nosso relacionamento mútuo.'
Com relação a isso um jornalista da BBC fez um resumo oportuno do século 21, escrevendo que o maior impacto desta década, que estabeleceu o tom e definiu a era, veio de 'você'. Segundo ele, a revista Time acertou quando, em 2006, transformou 'você' na personalidade do ano, colocando um espelho na capa. 'Você', escreveu o jornalista, lutou de maneira crescente contra as instituições que supostamente lhe deveriam representar ou agir em seu interesse. Você perdeu a fé nos bancos, nos políticos e nas companhias que colocaram alimento em sua mesa.' E quando você pode fazer algo a respeito na internet, comentou ele, você floresce. O maior conflito na década que passou, segundo ele, foi entre você e suas expectativas. Em outras palavras, ele vê esta década como de autointeresse, autoexpressão e conflito nos relacionamentos - nesse caso, entre o indivíduo e as instituições sociais. Poderíamos acrescentar que o autointeresse parece ser uma característica mais ou menos perene da humanidade.
Os relacionamentos assumem várias formas. Não apenas nos movemos para o exterior rumo aos outros, como a polaridade da vida também determina que, no tempo devido, devemos nos mover para o interior, através dos campos da nossa consciência, rumo à transcendente fonte da seidade, que Helena Blavatsky chamou de realidade última. Durante milênios, usando meios destrutivos, a humanidade perdeu a inocência; talvez agora se tenha tornado sofisticada demais para seu próprio benefício. Para muitos, no entanto, um relacionamento florescente com o espiritual ajuda a trazer uma perspectiva de vida mais equilibrada."
(Linda Oliveira - A renovação da sociedade - Revista Sophia, Ano 8, nº 31 - p. 30)
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