"Cientistas cuidadosos consideram a harmonia como parte da consumação última da vida em evolução. Dizem ser uma meta evolutiva. Para a mente mundana, individualidade e unicidade parecem ser opostas à harmonia social. Um dos grandes problemas da civilização é reconciliar a ordem necessária para uma sociedade pacífica com a liberdade necessária para a expressão e o desenvolvimento individuais. Quando a ênfase na ordem é demasiada, ela se torna opressiva; quando a liberdade torna-se importante demais, frequentemente termina em anarquia. É necessário equilíbrio. Esse equilíbrio é o que a natureza realiza por meio de suas leis, que infalivelmente recompõem quaisquer desequilíbrios.
Pelo fato da harmonia ser a ordem universal, nosso progresso interior, como seres morais e espirituais, depende de readquirirmos o senso de harmonia que perdemos. Os outros filhos da natureza não têm problemas como nós, pois são inteiramente parte do todo e livres do sentido de ego. Mas nós, seres humanso, alienamo-nos da natureza, nossa mãe, e dos seus outros filhos de muitas espécies. Portanto, viver em paz é um problema para os seres humanos. Harmonia, felicidade e paz caminham juntas. Prova disso é quando nos desentendemos com alguém; sempre nos sentimos infelizes, ou pelo menos constrangidos. Assim, para seguir além na estrada que leva à felicidade, devemos recuperar a harmonia. Como diz aquele belo texto em A Voz do Silêncio: 'Antes que alma possa ver, a harmonia interior deve ser atingida, e os olhos da carne devem tornar-se cegos à ilusão.'
As tradições religiosas estimulam as pessoas a se tornarem inocentes como crianças. A inocência existe quando a mente purga o sentido do ego e as imagens ilusórias. As crianças estendem os braços espontaneamente para outras crianças e para os animais, que também são inocentes como elas. Recebemos um grande dom, o dom da autopercepção. Ele não deve ser jogado fora, mas usado para purgar de nossa consciência todas as manifestações do ego e do pseudoconhecimento que arrasta a consciência para a separatividade e a absorção de diferenças.
A mente é a grande assassina do real, porque coleta as partes e perde o todo. Está tão presa em detalhes que não ouve a grande canção da vida. Aqueles que têm discórdia interior criam desavença exterior; aqueles que experienciam a harmonia vertem paz em toda parte.
A harmonia interior se expressa espontaneamente no viver inofensivo, na preocupação ecológica, no respeito e no senso de justiça com relação a todas as formas de vida, na ausência de exploração, na recusa em ceder à ganância, no viver simples e no sentimento profundo, evitando toda forma de desperdício e de luxo desnecessário. Obediência à lei da harmonia é a grande necessidade do mundo atual."
(Radha Burnier - A lei da harmonia universal - Revista Sophia - Ano 7. nº 28 - p. 13)
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