"(...) Numa dependência mais 'elevada', o rótulo de guru pode cair bem. Aparentemente tudo reflete a desgraça da memória. Contudo, o problema não está nela, mas sim na sede de segurança vinculada ao ego, o 'eu psicológico', do querer sempre mais. Enquanto ele se enriquece com a memória e seus agregados, a consciência se empobrece. Por isso os candidatos a ingresso nos mosteiros devem renunciar aos bens materiais e ao nome mundano.
Paradoxalmente, porém, segundo Eckart Tolle, 'há indivíduos que abrem mão de todas as posses, no entanto têm um ego maior do que alguns milionários'. Isso sucede porque 'se deixarmos de lado um tipo de identificação, o ego logo encontrará outro. No fim das contas, não importa ao que ele se apega, desde que nisso haja uma identidade' (O despertar de uma nova consciência, Ed. Sextante).
'Você quer saber como se livrar do apego às coisas?', pergunta Tolle. 'Nem tente fazer isso. É impossível. Esse vínculo desaparece por si mesmo quando paramos de tentar nos encontrar nas coisas. Nesse meio-tempo, simplesmente tenha consciência de que está ligado a elas'. Isso já faz diferença. 'Caso esteja consciente de que está identificado com algo, a identificação não é mais total'. A consciência abre caminho para a consciência.
E ego e a consciência parecem andar em pistas paralelas, sem nunca se encontrar. Às vezes, porém (como na ocorrência de uma perda) relâmpagos de comunicação se fazem entre as duas pistas. A 'ficha cai' e nos perguntamos: 'Como não percebi isso antes?' Então uma fração do eu psicológico se espiritualiza, se converte em consciência.
Dia virá em que essas duas entidades se fundirão, liberando o Cristo interno de sua cruz milenar, de sua prisão à ilusão dos títulos e posses. Ele nascerá na manjedoura de nosso corpo, que sintetiza os reinos de vida anteriores. Seremos então apenas consciência."
(Walter Barbosa - Os rótulos e a essência - Revista Sophia, Ano 7, nº 28 - p. 18/19)
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