"(...) Quando tento ouvir verdadeiramente, sempre me inspiro no mestre Zen Suzuki-roshi, que disse: 'Se sua mente está vazia, está sempre pronta para qualquer coisa; está pronta para tudo. Na mente do principiante há muitas possibilidades, na do homem experiente há poucas'.⁵ A mente do principiante é uma mente aberta, uma mente vazia, uma mente pronta, e se ouvimos com ela, podemos de fato começar a ouvir. Porque se ouvirmos com uma mente silenciosa, tão livre quanto possível do clamor das ideias preconcebidas, criar-se-á uma possibilidade para que a verdade dos ensinamentos nos penetre, e para que o significado da vida e da morte se torne progressivo e surpreendentemente mais claro. Meu mestre Dilgo Khyentse Rinpoche disse: 'Quanto mais você ouve, mais você escuta; quanto mais você escuta, mais e mais profundo se torna seu entendimento'.
O aprofundamento da compreensão, assim, dá-se através da contemplação e da reflexão, a segunda ferramenta da sabedoria. À medida que contemplamos o que ouvimos, os ensinamentos começam a penetrar nosso fluxo mental e a entrar na experiência interna da nossa vida. À medida que a contemplação revela e enriquece aquilo que começamos a entender de maneira intelectual, e leva esse entendimento da cabeça ao nosso coração, os eventos do cotidiano começam a refletir e a confirmar, direta e sutilmente, as verdades dos ensinamentos.
A terceira ferramenta sa sabedoria é a meditação. Depois de ouvir os ensinamentos e de refletir sobre eles, pomos em ação os insights que adquirimos e os aplicamos diretamente, através do processo de meditação, às necessidades da vida cotidiana."
⁵ Shunryu Suzuki, Zen Mind, Beginner's Mind (Nova York: Weatherhill, 1973), 21. [Traduzido para o português sob o título Mente Zen, Mente de Principiante (São Paulo: Palas Athena, 1994).]
(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 165/166)
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