“A natureza essencial da consciência é refletir sobre o que é, perceber e registrar, um simples ato que, se abrangente e profundo o bastante para penetrar todas as camadas do que existe, somaria em si toda a verdade possível de ser produzida em pensamento. O pensar segue caminhos limitados, mas muito mais complexos. Se observarmos qualquer coisa que existe sem qualquer pensamento, vamos perceber a presença de algumas coisas e passar adiante para outras, de modo que a consciência da percepção é como uma onda que se move continuamente para frente. Uma onda possui uma fachada na qual existem muitos pontos. Temos percepção da presença de muitas coisas simultaneamente. A consciência é uma vastidão que pode abranger muitas coisas ao mesmo tempo. Ela pode iluminar um campo inteiro de objetos. É realmente semelhante ao espaço que inclui todos os objetos.
O que faz do homem um pensador, uma característica que o destaca de todos os outros seres vivos, é sua memória e o uso que é capaz de fazer dela. A vida está sempre contida naquele instante intangível que chamamos de presente, mas a consciência, que é inseparável dela, possui como seu domínio não apenas o que percebe no presente, mas a região que já percorreu e inclui em suas memórias, sobre a qual projeta uma estranha luz colorida pelo presente. A memória constitui o terreno sobre o qual o pensamento se movimenta e constrói seus edifícios. Sem lembrança do que foi registrado cronologicamente no passado, o homem não pode pensar; assim como sua vida perderia sua coerência, e seus atos no presente, sua relevância. Ele estaria se movimentando como um veleiro ao sabor do vento, que sopra a todo momento daquele movimento, mas incapaz de direcionar seu curso em qualquer direção. Nesse caso, a própria palavra direção envolve dois pontos, o momento presente, com relação ao qual não há nenhuma opção de escolha, e um momento passado que, através do presente, faz sua ligação com o futuro. Quando se fala em evolução, existe uma contínua e crescente capacidade de lembrança. Nossa memória é muito mais sutil e inclusiva do que a de qualquer animal. Um animal desenvolvido como o elefante pode lembrar-se de determinados eventos por um longo tempo. Mas a nossa memória possui uma extensão mais ampla, ela inclui idéias e experiências pertencentes exclusivamente ao estágio humano.”
(N. Sri Ram - O significado de cada momento presente - Revista Theosophia, out/nov/dez de 2016, publicação da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 20)
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