"No Sutra das Quatro Nobres Verdades, Buda diz: 'Deves alcançar as
cessações'. Neste contexto, 'cessação' significa a cessação permanente
do sofrimento e de sua raiz, a ignorância do agarramento ao
em-si. Ao dizer isso, Buda nos aconselha a não ficarmos satisfeitos
com uma libertação temporária de sofrimentos particulares, mas
que tenhamos a intenção de realizar a meta última da vida humana:
a suprema paz mental permanente (nirvana) e a felicidade pura
e eterna da iluminação.
Todo ser vivo, sem exceção, tem que experienciar o ciclo de
sofrimentos da doença, envelhecimento, morte e renascimento,
vida após vida, sem fim. Seguindo o exemplo de Buda, devemos
desenvolver forte renúncia por esse ciclo sem fim. Quando vivia
no palácio com sua família, Buda observou como o seu povo estava
experienciando constantemente esses sofrimentos e tomou a
forte determinação de obter a iluminação, a grande libertação, e
conduzir cada ser vivo a esse estado.
Buda não nos estimula a abandonar as atividades diárias que
proporcionam as condições necessárias para viver ou aquelas
que evitam a pobreza, problemas ambientais, doenças específicas e assim por diante. No entanto, não importa o quanto sejamos
bem sucedidos nessas atividades, nunca alcançaremos a
cessação permanente de problemas desse tipo. Teremos ainda
que experienciá-los em nossas incontáveis vidas futuras e, mesmo
nesta vida, embora trabalhemos arduamente para evitar esses
problemas, os sofrimentos da pobreza, poluição ambiental e
doença estão aumentando em todo o mundo. Além disso, por
causa do poder da tecnologia moderna, muitos perigos graves
estão a se desenvolver agora no mundo, perigos que nunca haviam
sido experienciados anteriormente. Portanto, não devemos
ficar satisfeitos com uma mera libertação temporária de problemas
específicos, mas aplicar grande esforço em obter liberdade permanente
enquanto temos essa oportunidade.
Devemos nos lembrar da preciosidade da nossa vida humana.
Por exemplo, os seres que agora estão sob uma forma animal tiveram
esse tipo de renascimento animal devido as suas visões
deludidas passadas, que negavam o valor da prática espiritual.
Visto que a prática espiritual constitui-se no único fundamento
para uma vida significativa, eles não têm agora chance alguma,
sob uma forma animal, de se envolverem em uma prática espiritual.
Visto que para eles é impossível ouvir, entender, contemplar
e meditar nas instruções espirituais, seu renascimento presente
como animal é, por si só, um obstáculo. Como foi mencionado anteriormente, somente os seres humanos estão livres de tais obstáculos
e têm todas as condições necessárias para se empenharem
nos caminhos espirituais – os únicos caminhos que conduzem à
paz e felicidade duradouras. Essa combinação de liberdade e de
posse de condições necessárias é a característica especial que faz
com que a nossa vida humana seja tão preciosa. (...)"
(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 63/65)
Fonte: https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com
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