"Um dos mais importantes ensinamentos budistas diz respeito à impermanência. O livro Luz no Caminho (Ed. Teosófica) também faz referência à 'senda verdadeira', que a pessoa pode trilhar quando deixa para trás o apego. Isso significa desprender-se de cada pensamento, sentimento e preferência, até que a mente esteja completamente livre.
Nós nos apegamos às coisas que conhecemos; no entanto, só se pode adentrar o campo do desconhecido quando o conhecido deixar de existir. O desconhecido é, evidentemente, aquilo sobre o que não fazemos qualquer ideia. Então, nós nos aferramos a algo ou a algumas pessoas na esperança de que sejam substitutos para isso. Podem ser membros da família ou amigos com quem temos um íntimo relacionamento. Numa certa parte do nosso cérebro, sabemos que é por isso que continua a existir o luto por pessoas que não mais existem. Esse apego é uma das mais sérias doenças enfrentadas pelos seres humanos, e encarnações se passam antes que o desapego seja sequer considerado uma virtude.
Conta-se que Krishnamurti era muito apegado a seu irmão. A doutora Annie Besant era como uma mãe para ele, mas havia também seu irmão mais novo, que devia auxiliá-lo em sua obra. O irmão morreu na Califórinia, quando Krishnamurti nem mesmo estava presente. Durante várias noites ele teve que lutar não com o fato, mas consigo mesmo. Ele saiu do luto como uma pessoa nova, pois entendera toda a questão do apego.
O fato de que Krishnamurti parecia não precisar de companhia era um dos dados desconcertantes a seu respeito. Isso pode acontecer a qualquer um de nós; no entanto, não queremos abrir mão do apego. As pessoas acham difícil aceitar a verdade da impermanência. Nada dura nesse mundo. Quando chegamos a essa conclusão - de que tudo perece -, perguntamos: haverá um 'eu' que transcende essa regra?"
(Radha Burnier - O caminho do desapego - Revista Sophia, Ano 10, nº 40 - p. 21)
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