"Karma Ativo, ou Karmabhava, é o Karma que estamos
formando agora com os nossos pensamentos, ações e nossa vida em geral, bem como
o que nela há de bom ou de mau. Isso produzirá o que vai ser o Karma Passivo da
próxima vida, isto é, seu ambiente e condições. Da mesma maneira, o Karma
Ativo da existência passada produziu o Karma Passivo desta vida.
Karma Passivo, ou como é chamado tecnicamente,
Upapattibhava, refere-se ao ambiente, às condições e ao caráter com os quais
nascemos: todas essas coisas que nos dão, na vida, a impressão de que exercemos
controle sobre elas, levando-nos a cogitar porque temos tal ambiente e tais
obstáculos ao nosso progresso. Há, no Mahâbhârata, uma estranha passagem que
merece consideração, embora, recordem bem, não se trate de doutrina
autorizada, mas de certas palavras ditas por Bhishma a Yudhisthira, para
explicar que o fruto de um ato aparecerá no período correspondente da vida, na
próxima existência. Pode haver, e provavelmente há, muita verdade nessa
declaração, e é muito possível que ações bastante sérias e fortes tenham seu
efeito da maneira assim exposta. É possível atribuir isso a acontecimentos
inquietantes e inesperados de nossa vida? É possível contra-arrestar esses
efeitos? Alguns entre nós andam sob uma nuvem durante anos, quando, de
repente, a nuvem sobe e as coisas parecem tomar novo caminho e novo aspecto.
Tudo pode ser atribuído a algum Karma passado e poderoso demais para ser
anulado enquanto não se esgote completamente.
Há,
aqui, um outro ponto. Seria de se julgar que o lado passivo de nossas vidas é
bem projetado previamente (pelas nossas próprias ações, naturalmente) e que a
Fatalidade, o Destino, a Predestinação mostram-se, em parte ou na totalidade,
verdadeiros. Se considerarmos melhor, todavia, vemos que não é assim, mas que o
que quer que nos aconteça só acontece porque nós próprios o trouxemos para
nós. Se o nosso Karma é poderoso demais para ser afastado, nós o chamamos de
Destino. Quanto à Sorte, ela está, esteve e estará em nossas próprias mãos.
Certa passagem do Vaishnava Dharmasastra, ou Sutra de Vishnu, vem-me à mente,
agora. Ela diz: 'Um homem não morrerá enquanto não chegar o seu tempo,
mesmo que tenha sido traspassado por um milhar de flechas. Não viverá depois
que seu tempo chegar, mesmo que tenha sido tocado apenas por uma haste da era
Kusa.' Isso precisa ser explicado. Embora seja verdade que a nossa
vida, sendo produto de causas passadas, deve ser 'fixada', certamente,
como resultado lógico dessas causas passadas, ou 'projetada' em seus
aspectos principais, ainda assim, devemos ter em mente que possuímos, a cada
dia, o poder de modificar ou mudar a chamada Sorte, ou 'Destino',
que é nosso. Na prática, entretanto, deve ser muito raro, se é que chega a
acontecer, que alguém viva a exata extensão de tempo que elaborou para si
mesmo. O mesmo livro diz: 'Quando expiram os efeitos das ações de alguém
em existências passadas, e que levaram sua presente existência a ser o que é,
a morte arrebata essa pessoa, energicamente.' Em conexão com isso, é bom
recordar que um homem pode alterar a sua sorte, e se a extensão dos dias forem
resultado nítido de Karma passado, é bastante seguro dizer-se que novo Karma
pode ser gerado nesta vida, com o efeito de contra-arrestar os efeitos do
Karma passado. Podemos fazer uma pedra rolar por uma colina abaixo e, pela lei
do Karma, ela deve atingir o fundo. Todavia, ela poderá ser detida se corrermos
à frente, se a segurarmos e lançarmos para um lado. O Verdadeiro Eu Imortal
Interior é Senhor do Karma, e, palmilhando o Caminho da União com esse Um
Oculto, podemos dominar o Destino, ou Sorte, ou, pelo menos, modificá-lo. De
outra maneira, ele nos dominará. Recordemos, portanto, estas palavras de
Shu-King (Livro dos Anais): 'Não é o céu que corta cedo a vida dos homens;
eles a conduzem ao fim por si próprios.' (IV, ix, I.)"
(Irmão Atisha - A Doutrina do Karma - Editora Pensamento, São Paulo - p. 14/15)
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