"P: Mas qual é a distinção entre essa 'verdadeira individualidade' e o 'Eu ou Ego' de que todos temos consciência?
T: Antes de responder devo discorrer sobre o que você entende por 'Eu ou Ego'. Distinguimos entre o fato simples de consciência própria, o sentimento simples de que 'Eu sou eu', e o pensamento complexo de que sou o 'sr. Smith' ou 'a sra. Brown'. Acreditando como acreditamos, em uma série de nascimentos para o mesmo Ego, ou reencarnação, essa distinção é o eixo fundamental da ideia inteira. 'Sr. Smith' na realidade significa uma longa série de experiências diárias, todas unidas pela continuação da memória, formando aquilo que o sr. Smith chama de 'meu eu'. Mas nenhuma dessas 'experiências' é realmente o 'Eu' ou o 'Ego', nem produz ao sr. Smith a sensação de ser ele mesmo, pois esquece a maior parte de suas experiências diárias, e produzem nele o sentimento de egoidade unicamente enquanto duram. Portanto, nós, os teósofos, distinguimos entre esse conjunto de 'experiências' que chamamos de falsa personalidade (por ser tão fugaz e finita), e aquele elemento do homem a que se deve o sentimento do 'eu sou eu'. Para nós, é este 'eu sou eu' a verdadeira individualidade: e sustentamos que este 'Ego' ou individualidade representa como o ator nos palcos muitos papéis na peça da vida. Consideramos cada nova vida na terra, do mesmo Ego, como uma representação diferente no cenário de um teatro: aparece uma noite como Macbeth, na seguinte como Júlio César, depois será Romeu, na próxima Hamlet ou o Rei Lear, e assim sucessivamente, até que tenha completado o ciclo de encarnações. O Ego começa sua peregrinação de vida em papéis bem secundários como o de um espectro, um Ariel ou um duende; logo representa um papel de coadjuvante: é um soldado, um criado, um cantor de coro; depois ascende a 'papéis falados': desempenha alternadamente papéis principais e outros insignificantes, até que, finalmente, despede-se da cena como Próspero, o mago."
(Blavatsky - A Chave da Teosofia - Ed. Três, Rio de Janeiro, 1973 - p. 51/52)
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