"Para a maioria de nós, toda a vida está baseada no esforço, em alguma espécie de volição. Não podemos conceber ação sem volição, sem esforço; nisso está baseada nossa vida. A vida social, econômica, e a chamada vida espiritual são uma série de esforços, culminando sempre em certo resultado. E pensamos que o esforço é essencial, necessário.
Por que fazemos esforço? Não é, falando com simplicidade, com o fim de alcançarmos um resultado, de nos tornarmos alguma coisa, de alcançarmos um objetivo? Se nenhum esforço fazemos, pensamos cair na estagnação. Temos uma idéia a respeito do alvo que estamos lutando para alcançar e esta luta se tornou parte da nossa vida. Se desejamos modificar-nos, mudar radicalmente, fazemos um esforço tremendo para eliminar os velhos hábitos, resistir às influências ambientes, etc. Estamos, pois, habituados a essa série de esforços no sentido de encontrar ou realizar alguma coisa, para vivermos de alguma maneira.
Todo esse esforço não representa atividade do 'ego'? Esforço não significa atividade egocêntrica? Se fazemos um esforço, procedente do centro do 'eu', esse esforço inevitavelmente produzirá mais conflito, mais confusão e amargura. Entretanto, continuamos, obstinadamente, a fazer esforço sobre esforço. Pouquíssimos dentre nós compreendem que a atividade egocêntrica do esforço não nos livra de nenhum dos nossos problemas. Pelo contrário, aumenta nossa confusão, nossa amargura, nosso sofrimento. Sabemo-lo, e entretanto continuamos a nutrir a esperança de nos libertarmos, de algum modo, dessa atividade egocêntrica do esforço, da ação da vontade.
Penso que chegaremos a compreender o significado da vida, se entendermos o que quer dizer fazer um esforço. Vem a felicidade como resultado do esforço? Já tentastes alguma vez ser felizes? E impossível isso, não achais? Lutais para ser felizes, e não há felicidade, há? A alegria não vem como resultado de coerção, de refreamento ou transigência. Podeis ceder, mas no fim encontrareis amargura. Podeis refrear ou controlar, mas há sempre luta, subterrâneamente. A felicidade, pois, não se consegue pelo esforço, nem a alegria pelo controle e refreamento. Entretanto, toda nossa vida é uma série de esforços, de refreamento, de controle, e uma série de lamentáveis capitulações. Há também um constante esforço de domínio, uma luta constante com nossas paixões, nossa ganância e estupidez. Não é certo que estamos lutando, agitando-nos, esforçando-nos, na esperança de acharmos a felicidade, de acharmos alguma coisa que nos dê um sentimento de paz, um sentimento de amor? Mas o amor ou a compreensão resulta de luta? Julgo importantíssimo compreender o que se entende por luta ou esforço. (...)"
(Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 58/59)
Nenhum comentário:
Postar um comentário