"Nem sempre a vida do Buda correu em meio ao reconhecimento geral e tranquilidade. Ao
contrário, existem dados que mostram obstáculos e calúnias que o Mestre enfrentava no meio dos ascetas e brâmanes para os quais ele, como verdadeiro guerreiro, se fortalecia e
firmava o significado da sua conduta. Para os primeiros ele dizia: 'Se o homem pudesse
conseguir libertar-se dos grilhões que o prendem à terra, apenas pela recusa do alimento ou
condições físicas desfavoráveis, o cavalo e a vaca já teriam atingido isto há muito tempo.' Para os segundos: 'Pelo que faz o homem ele é um
sudra (casta inferior), da mesma forma é
um
brahmana (casta superior, sacerdote). O fogo aceso pelo brâmane, ou pelo sudra, tem a
mesma chama, calor e luz. Por que a separatividade?'
Sentia-se coragem e intrepidez no fundo de suas afirmações: 'Não há verdadeira compaixão e
renúncia sem coragem, sem coragem não se pode alcançar a autodisciplina; sem paciência e
coragem, não se pode penetrar no fundo do real conhecimento e alcançar a sabedoria de um
Arahant.'
'Vigoroso e alerta, tal é o discípulo, ó irmão. Seguindo o Caminho do Meio, suas
energias são equilibradas; não é nem ardente sem medida, nem dado à intolerância. Ele está
compenetrado desse pensamento: Que minha pele, meus músculos, meus nervos, meus ossos
e meu sangue se dessequem, antes que eu renuncie a meus esforços, até atingir o que pode ser
atingido pela perseverança e pela energia humana.' (Majjhima Nikaya)
Certa ocasião, no meio de um discurso, quando a maioria dos ouvintes se retirou, Buda
declarou: 'A semente se separou da polpa, a comunidade forte em convicção está
estabelecida; ótimo que esses orgulhosos tenham-se afastado.'"
(Georges da Silva e Rita Homenko - Budismo - Psicologia do Autoconhecimento - Ed. Pensamento, São Paulo, p. 16/17)
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