"Na sociedade moderna nós parecemos ter medo do silêncio; por isso o preenchemos com conversa fiada ou passamos o tempo com entretenimentos. Talvez nós nos sintamos desconfortáveis com o silêncio porque ele nos força a fazer um balanço de nós mesmos e de nossas vidas; ficamos face a face com nós mesmos, com a nossa 'face original', como dizem os místicos Zen.
Apolônio de Tyana, seguidor de Pitágoras e de sua escola, permaneceu em silêncio durante cinco anos, como parte de seu treinamento. Ele não se dirigiu a uma floresta nem foi para o deserto; permaneceu na cidade, onde usava gestos ou escrevia bilhetes quando precisava se comunicar.
O compositor John Cage criou uma controvertida composição que tinha mais de quatro minutos e meio de silêncio. Ele provavelmente estava tentando transmitir a ideia de que toda música surge no silêncio e a ele retorna. É o silêncio entre as notas que cria a música; sem ele, teríamos apenas um som constante e incompreensível. Cage estudou Zen Budismo durante algum tempo e isso influenciou sua obra, que fazia uso do silêncio.
Provavelmente a aversão ao silêncio é mais uma tendência ocidental, pois no Oriente, particularmente nas poesias chinesa e japonesa, o silêncio tem mais valor do que as palavras; em suas pinturas, o espaço é mais valorizado que as formas. No conceito de silêncio desempenha um papel importante. Na Índia dizem que Krishna nasceu na calada da noite - isso significa que o eu espiritual se manifesta quando a mente está tranquila e em silêncio. No Taoísmo há o concento da 'meia-noite viva', que transmite a mesma ideia.
Na Teosofia, todos conhecemos A Voz do Silêncio, a bela e poética obra traduzida por H.P. Blavatsky, que diz: 'Quando para si mesmo a sua própria forma parece irreal, como o parecem ao acordar todas as formas em sonhos que ele vê. Quando deixar de ouvir os muitos, poderá perceber o Uno - o som interior que mata o exterior. Só então abandonará ele a região de Asat, o falso, para chegar ao reino de Sat, o verdadeiro. Antes que a Alma possa ver, deve ser conseguida a harmonia interior, e os olhos da carne tornados cegos a toda a ilusão. Antes que a Alma possa ouvir, a imagem (o homem) tem de se tornar surda aos rugidos como aos murmúrios, aos bramidos dos elefantes em fúria como ao prateado sussurro do pirilampo de ouro. Antes que a Alma possa compreender e recordar, ela deve primeiro unir-se ao Falante Silencioso, como a forma que é dada ao barro se uniu primeiro à mente do ceramista. Porque então a Alma ouvirá e poderá recordar-se. E ao ouvido interior falará: a voz do silêncio.'"
(Waine Gatfield - O poder do silêncio - Revista Sophia, Ano 11, nº 46 - p. 15)
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