"Do ponto de vista da verdade, que é Teosofia³, a morte tem um caráter diferente do que comumente imaginam as pessoas de quaisquer crenças. O medo da morte é a coisa mais comum no mundo; na verdade, a morte é retratada como a rainha do terror. Na Índia, os costumes e ritos dedicados ao funeral imprimem pavor nas mentes dos enlutados com pompa quase primitiva, enquanto no Ocidente o horror com que é considerada está vestido com o silêncio de um pesar negro e sombrio. Mas, do ponto de vista do homem eterno, a morte é um incidente recorrente no caminho de seu progresso, e, como nos diz o Bhagavad-Gita, 'por que se afligir com o inevitável?'
Existem razões para pensar que a morte não é um incidente prejudicial, e geralmente também não é dolorosa. Na maioria dos casos a mudança deve decididamente ser para melhor; o evento em si deve ser um evento que traz alívio. Para o teósofo o mundo físico é o verdadeiro anel externo de trevas. O processo de inspiração (que é morte em suas fases sucessivas) é um processo de se aproximar mais do centro de onde viemos.
Em toda parte na Natureza existe a alternância de noite e dia. Manvãntara e Pralaya, expansão e contração, limitação e transcendência, o eterno balanço do pêndulo. Toda a manifestação surge por meio dessa dualidade - o ritmo da oscilação de um polo a outro de qualidade ou de estado. Olhando-se a partir desse prisma, existe uma lei de morte e nascimento constantes, o tempo todo, em toda parte, nada havendo de estranho e terrível no processo.
Do ponto de vista prático, para os oniscientes administradores do Karma, a morte deve significar simplesmente o movimento de um peão, e provavelmente não é considerada por eles como um evento de grande importância. Pode até mesmo ser uma recompensa pelo bom trabalho prestado, a consequência do julgamento de que o homem fará melhor em algum outro lugar do que provavelmente fará aqui, se sua encarnação atual for prolongada. Em muitos casos pode muito bem ser o efeito de um evento ajustável, e até aí talvez sob nosso controle. De qualquer modo, se fizemos o melhor possível em qualquer circunstância, podemos esperar por melhores oportunidades da próxima vez."
³ Aqui se entenda que o autor se refere à Sabedoria Divina, que é a verdade, e não à literatura na qual se tenta percebê-la e descrevê-la, sem a pretensão de arrogar-se como sendo a própria verdade (N.E.).
(N. Sri Ram - O Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 33/34)
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