"(...) Quando a vivência religiosa atua positivamente na geração da qualidade espiritual da consciência, o faz através de exemplos e ensinamentos libertadores, que geram um entendimento da realidade que é inspirador e induz à ação e ao aprofundamento. A qualidade espiritual da consciência, então, cresce firmemente gerando harmonia à sua volta e distribuindo aos mais próximos a inspiração que a alimenta.
No entanto, quando a prática religiosa suprime a espiritualidade, surgem estados de fanatismo e credulidade, julgamentos arrogantes em relação ao diferente, domínio sobre a consciência de outros, supressão da autonomia e da liberdade de pensamento, perda da espontaneidade e propensão a representar papéis de superioridade. Nesse caso, a vivência religiosa pode gerar grande prejuízo nas relações interpessoais e desestabilizar interiormente seus praticantes. Impossibilitados de contar de forma autônoma com seus recursos interiores, já que sua liberdade mental e discernimento são vistos com desconfiança, tornam-se cada vez mais dependentes de figuras externas de autoridade.
Uma interessante definição de espiritualidade foi dada por Annie Besant, uma ativista social que viveu no final do século XIX e começo do século XX, e que se tornou teosofista após conhecer a fundadora do movimento teosófico, Helena Blavatsky. Besant afirmou que espiritualidade é a percepção da unidade. O conceito de unidade remete a ensinamentos antigos presentes em muitas tradições, e afirma que existe uma realidade última que está na origem do mundo manifestado, onde todas as coisas estão conectadas e compartilham da mesma natureza e origem.
A noção de interdependência, presente no paradigma sistêmico que surgiu da física de partículas e que rapidamente domina os mais diversos cenários atuais da ciência, confirma esse antigo axioma. Do ponto de vista da consciência, portanto, a espiritualidade implica em ultrapassar o pensar discriminativo. No entanto, isso é insuficiente para a compreensão do que Annie Besant procurou mostrar."
(Marco Aurélio Bilibio Carvalho - A descoberta da espiritualidade - Revista Sophia, Ano 9, nº 33 - p. 6/7)
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