Como lutar é um hábito do ego, quando as pessoas decidem não fazer parte do mundo e viver a vida espiritual, a mente continua ansiosa por obter a atenção do guru, para se iluminar rapidamente ou para encontrar o melhor método de vencer os defeitos. Assim, ela não é pacífica. É fácil ser mundano enquanto se imagina ser espiritual. Por outro lado, ao perceber que o eu egoísta se alimenta da confrontação com os outros, com as ideias, as circunstâncias e os seus próprios defeitos, a pessoa se livra da tensão, e sobrevém a calma.
Viver uma vida saudável, ser natural e feliz como as crianças significa não lutar, mas permanecer quieto e calmo com o que quer que seja. O Taoísmo ensina a não resistência, o que implica profundo contentamento interior, em harmonia com o céu e a terra. Não será isso o que quer dizer o Bhagavad Gita ao aconselhar a pessoa a agir 'estabelecida no yoga'? Yoga é realizar plenamente a harmonia do céu e da terra dos quais somos parte. Quando não há sentimento de luta, ocorre uma mudança nos nossos relacionamentos e em nosso próprio ser.
Pessoas inteligentes e talentosas oferecem soluções variadas para os imensos problemas atuais, mas muitas vezes a cura é pior que a doença. O uso de produtos químicos artificiais é um exemplo. Supunha-se que prenunciavam uma sociedade livre de doenças, mas criaram novos problemas. Quem sabe o que irá resultar das manipulações genéticas?
Somos incapazes de dar fim aos conflitos no mundo ou de erradicar a pobreza. Será que somos tão impotentes porque somos vítimas do estresse do ego, que essencialmente projeta ilusões a partir de mentes perturbadas e, portanto, obscuras? Obviamente, apenas a mente tranquila possui clareza; a mente confusa acredita em suas capacidades e supõe que a confusão pode ser subitamente dissipada. Mas isso não acontece, porque suas percepções não são nem totais nem saudáveis. (...)"
(Radha Burnier - Estar no mundo e viver em paz - Revista Sophia, Ano 11, nº 41 - p. 29/30)
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