"Um corpo doente fica estressado, e uma mente com temores, esperanças e incertezas também se estressa. Esse estresse está em alta no mundo moderno, com sua filosofia de competitividade e autopromoção. Por isso tantas pessoas estudam o Budismo, o Zen, o Vedanta, ouvem palestras e frequentam templos, tentando escapar de tudo.
O monge erudito Srngeri afirmou: 'As pessoas acreditam que é necessário ir para uma floresta praticar tapas, mas ela pode ser praticada onde quer que se esteja.' Tapas significa 'queimar' os elementos do mundanismo e da impureza. Tapas corporal inclui ser honrado, inofensivo e casto. Tapas verbal são palavras corretas, que não causem dor, que sejam úteis, que levem ao autoconhecimento. Tapas mental é ser sereno, ter sentimentos puros e uma mente controlada.
Estar fora do mundo significa ser livre, controlar a própria vida sem ser levado a adotar atitudes, valores e crenças por compulsão. No Yoga-Vasishtha e na Bíblia, encontramos conselhos de Vasishtha e Jesus, respectivamente, para sermos como criancinhas. As crianças são felizes por natureza. Elas não lutam contra o mundo, não se preocupam em adquirir bens nem em se autoengrandecer. São apenas elas mesmas.
Em contraste, a essência do mundanismo expressa-se nos adultos em uma atitude de confrontação, consciente ou inconsciente. Mesmo em pessoas que não vivem em circunstâncias duras, o tempo todo existe algo que luta, em um nível sutil. Existe competição na família, no trabalho, nas outras obrigações. Então, fatigados pela luta, as pessoas se esforçam para se livrar dela. Ainda não ousam permanecer quietas e em paz; querem sempre realizar algo, chegar a algum lugar.
Para que lutamos? Por que o estresse surge das profundezas do nosso ser? A luta do nosso passado animal ainda estará ativa no cérebro? Por que as pessoas que desfrutam das benesses da vida sentem-se pobres? As crianças são preparadas para assumir posições cada vez melhores, adquirir mais habilidades, realizar sempre mais. Além disso, existe a luta para ser amado. Quanto mais as pessoas anseiam por amor, admiração e reconhecimento, mais estressadas se tornam. Desejando e exigindo - em vez de estarem elas mesmas amando e sendo úteis -, passam suas vidas lutando. (...)"
(Radha Burnier - Estar no mundo e viver em paz - Revista Sophia, Ano 11, nº 41 - p. 29)
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