"(...) Enquanto a humanidade for pecadora, haverá sofredores, ainda que inocentes.
O Apocalipse fala da abolição de todo o sofrimento - mas isto só acontecerá quando houver 'um novo céu e uma nova terra', e quando 'o reino dos céus for proclamado sobre a face da terra', isto é, quando não houver mais uma humanidade pecadora, então deixará de haver sofrimento individual.
Há quem julgue que uma grande espiritualidade possa diminuir ou mesmo abolir o sofrimento. Mas é experiência universal que são precisamente os homens espirituais, os santos, os iniciados, os que mais sofrem. Por quê? Porque, quando o homem já não tem débito próprio, se torna ele um sofredor ideal por débito alheio. É esta a razão por que os santos e os iniciados costumam sofrer serenamente, por que se sentem como pecadores de débitos alheios.
Sofrer por débito próprio é vergonhoso - sofrer por débito alheio é honroso.
Enquanto a nossa humanidade for adâmica, vigorará este lei de solidariedade. Somente uma humanidade cósmica, como a de Jesus, não teria sofrimento compulsório; nesta nova humanidade, o homem poderia dizer: 'Ninguém me tira a vida; eu é que deponho a minha vida quando eu quero, e retomo a minha vida quando eu quero'. Assim fala o 'Filho do Homem', mas nós somos 'filhos de mulher'.
A alergia ao sofrimento é da humanidade adâmica - a imunidade é da humanidade cósmica. Na humanidade cósmica, do Cristo e dos grandes avatares, não há o sofrimento e morte compulsórios, embora possa haver sofrimento e morte voluntários. Neste humanidade impera absoluta libertação e liberdade.
Enquanto vivermos na humanidade adâmica, haverá sofrimento, tanto de culpados como de inocentes. E, durante este vivência, a sabedoria do sofredor consiste em sofrer serenamente. Quem puder dizer como Paulo de Tarso: 'Eu exulto de júbilo no meio de todas as minhas tribulações', esse atingiu elevado grau de evolução humana."
(Huberto Rohden - Porque Sofremos - Ed. Martin Claret, São Paulo, 2004 - p. 27/28)
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