"(...) A fim de ilustrar a possibilidade de um sofrimento substitutivo, um sofrimento por culpa alheia, sirvamo-nos da comparação seguinte:
O paladar do homem ingere veneno, por ser de sabor agradável; a consequência desta aberração (pecado) não é somente a morte do paladar, mas sim a morte do corpo todo, embora as pernas, os braços, o coração e os pulmões não sejam culpados; a organicidade do corpo implica nessa solidariedade do sofrimento.
O indivíduo humano não é um átomo isolado e separado do organismo da humanidade; é uma parte integrante dela; por isto, sofre a parte por outra parte ou pelo todo.
Nenhum homem é mau só para si - o seu ser-mau faz mal a todos.
Nenhum homem é bom isoladamente - o seu ser-bom faz bem a todos.
A maldade de muitos faz mal a todos - a bondade de muitos faz bem a todos.
'Quando um único homem - escreve Mahatma Gandhi - chega à plenitude do amor, neutraliza o ódio de milhões' e quando ele viu que o chefe de polícia o acompanhava com uma arma de fogo para o defender, em caso de atentado, Gandhi murmurou: 'Enquanto alguém deve defender alguém com violência, eu não cumpri ainda a minha missão'.
Inversamente, poderíamos dizer: quando um homem chega ao abismo do ódio, reforça o ódio de milhões.
Ninguém pode herdar o pecado de outrem, mas pode sofrer porque outro pecou.
Se uma criança nasce defeituosa, não prova isto necessariamente que ela pecou uma existência anterior; isto lhe pode acontecer porque todo o indivíduo vive num ambiente envenenado pelas maldades da humanidade, conforme as palavras do Mestre: 'O príncipe deste mundo, que é o poder das trevas, tem poder sobre vós'. (...)"
(Huberto Rohden - Porque Sofremos - Ed. Marin Claret, São Paulo, 2004 - p. 26/27)
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