"(...) Aquele que conhece o conhecimento e a ação, com a ação vence a morte e com o conhecimento alcança a imortalidade.
Aqui há uma óbvia referência à existência simultânea do Conhecimento e da Ação, de modo que não há contradição entre ambos. Em nossas experiências normais consideramos a ação como seguidora do pensamento. Há primeiro um pensamento padrão e, então, lentamente, através de labor e esforço, buscamos criar um comportamento padrão em termos daquele pensamento. Consideramos o pensamento como sempre precedendo a ação. Mas esse como um meio de descrever a ação. A descrição pelo pensamento surgiria muito naturalmente. Quando uma pessoa descobre algo, daquela experiência surge uma expressão que é natural e simultânea. Não há brecha entre a experiência e a expressão, embora haja sempre uma brecha entre a crença e o comportamento. Uma ponte jamais pode ser construída entre o Pensamento e a Ação, mas entre a Ação e o Pensamento não há necessidade alguma de ponte. Se a ação pudesse preceder o pensamento, então todo o problema da frustrante luta entre o Preceito e a Prática seria eliminado. É a isso que o verso acima do Upanixade Ishavasya se refere, pois ele diz: 'com a ação ele vence a morte e com o conhecimento alcança a imortalidade'. É um fato que o homem teme a morte e deseja vencê-la adquirindo conhecimento da imortalidade. Mas o Upanixade Ishavasya diz: 'reverta o problema de modo que a ação venha antes e o pensamento siga depois'. Ele diz: 'primeiro MORRA e, a seguir, nessa experiência da morte, chegará o conhecimento da Imortalidade.' O conhecimento da imortalidade nasce natural e espontaneamente, ele vem com o próprio despertar da experiência da morte.
Devemos notar que a precedência da Ação sobre o Pensamento não é uma defesa para a ação impensada. Uma ação impensada é uma ação impulsiva. É uma ação nascida do hábito ou instinto. Obviamente é uma ação nascida da inércia. Mas a precedência da Ação sobre o Pensamento é um estado no qual a ação ocorre quando o pensamento ainda nem mesmo nasceu. O verso acima do Upanixade Ishavasya fala da 'derrota da morte' pela Ação. Não é preciso dizer que a Morte demanda uma ação total, pois não deixa nada para trás. Tal totalidade de ação é possível apenas quando a ação precede o pensamento. Onde o pensamento intervém, a ação está fadada a ser incompleta. O pensamento surge da experiência acumulada da mente. Sua existência depende, portanto, de manter essa experiência intacta. O rompimento dessa experiência significa o fim do próprio pensamento. E, portanto, a intervenção do pensamento em qualquer ação é para manter a continuidade da experiência. Assim, o pensamento restringe a ação e a mantém dentro dos confins da continuidade. Como pode uma ação que funciona dentro dos confins da continuidade vencer a morte que é uma experiência de descontinuidade? A morte é um fenômeno de descontinuidade. A vitória sobre a morte, portanto, requer uma ação livre das influências restritivas da continuidade. Tal ação é possível somente quando não há intervenção do pensamento. Onde a ação precede o pensamento, somente aí a experiência da morte ocorre. E dessa experiência da morte surge a compreensão da imortalidade. A experiência da morte e a compreensão da imortalidade não estão separadas no tempo, são instantâneas. A ação de conquistar a morte e o conhecimento da imortalidade são simultâneos, não ocorrem um após o outro. (...)"
(Rohit Mehta - O Chamado dos Upanixades – Ed. Teosófica, Brasília, 2003 - p. 28/29)
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