"O iogue sábio procura uma indiferença interior aos acontecimento e às mudanças transitórias, assim como o capitão de um navio minimiza os desvios da verdadeira rota que, na ausência de sua atenção, poderiam ser causados pelo tempo, vento e pelas ondas. Existe uma clara distinção entre a atenção apropriada às pessoas e aos movimentos, e nosso relacionamento com ambos, bem como o reconhecimento interior da falta de importância relativa que têm para o desenvolvimento do Ego, exceto como orientações para a conduta futura.
A calma do lago tranquilo entre as montanhas num dia sem vento representa a condição ideal da natureza mental e emocional do iogue que deve ser submetido a crises sucessivas, nas quais deve viver, pois são inseparáveis da existência física fora do santuário. Quando possível, antes de ir dormir, restabeleça a natureza psíquica a este estado tranquilo, após ter observado devidamente e notado sem envolvimento passional os eventos do dia. A recitação da Palavra Sagrada antes de dormir é uma prática útil que beneficia todo o quaternário inferior.
Brisas suaves podem soprar sobre o lago tranquilo causando ondulações em sua superfície, que retorna imediatamente à tranquilidade após a sua passagem. Talvez com uma só exceção, as experiências de qualquer dia da vida terrena são comparáveis a estas brisas suaves. A exceção seria o erro pessoal, quer seja inadvertido ou deliberado. No primeiro caso, a completa calma deveria ser instantaneamente reassumida após cada experiência e toda a natureza pacificada antes de ir dormir. O erro deve ser corrigido e também reparado quando há outros envolvidos. Deve haver a determinação para não repetir o erro, e em seguida a restauração da calma - se necessário, entoando a Palavra Sagrada e elevando a consciência inteiramente acima do pessoal. Isso vai assegurar a entrada nos estudos e trabalhos noturnos, aparecimento diante dos Mestres e irmãos Iniciados, discípulos e aspirantes, e a percepção e recepção de decisões e ordens com uma mente calma e uma aura pacífica, livre de distorções e manchas.
O costume oriental de deixar atrás os calçados ao entrar num templo é um símbolo útil para deixarmos para trás as considerações mundanas antes de irmos dormir. É bem verdade que esta é uma orientação sutil para os aspirantes que são forçados a se submeter às condições de vida terrena entre pessoas de tipos diferentes e em vários graus de desenvolvimento. A ioga torna a pessoa cada vez mais sensível às condições externas e internas, apesar de conceder também mais calma e autocontrole. Este último deveria ser aumentado como um parte essencial da ioga. Calma mental imperturbável mesmo quando as emoções tiverem sido perturbadas - por outra pessoa, ou uma percepção intuitiva de um erro ou de uma desarmonia atual ou premente - este é o ideal."
(Geoffrey Hodson - A Suprema Realização através da Ioga - Ed. Teosófica, Brasília, 2001 - p. 94/95)
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