"A última coisa que o homem descobre é a si mesmo. É uma verdade singular, e contudo universal, a de que, no homem, a sede por conhecimento houvesse de começar pelo mais distante e terminar pelo mais próximo. O homem primitivo estudou o firmamento, mas somente o homem moderno começa a explorar os mistérios de sua própria alma.
Os seres humanos, na sua maioria, são mistérios para si próprios; e muitos ainda não se apercebem da existência do enigma. Se perguntássemos ao homem comum o que ele é em realidade, como ser vivente; que lhe sucede quando sente, pensa e age; qual é a causa da luta entre o bem e o mal de que é consciente em seu interior, ele não só seria incapaz de responder, como o próprio questionamento lhe pareceria estranho e novo. No entanto, não é ainda mais estranho que os indivíduos caminhem pela vida arcando com todas as suas vicissitudes, passando pelos sofrimentos comuns a todos os homens, regozijando-se nos fugazes prazeres da vida, suportando sua incessante carga, e nunca perguntarem por quê?
Se deparássemos com um homem viajando com muito incômodo e fadiga, e ao lhe perguntarmos para onde estaria indo nos respondesse que nunca lhe havia ocorrido pensar em tal coisa, certamente o qualificaríamos de insano. Não obstante, é exatamente o caso da maioria dos indivíduos na vida trivial - seguem caminho, desde o nascimento até a morte, trabalhando arduamente durante todo o exaustivo trajeto da vida, e nunca perguntam por quê; ou, se o fazem formulam a questão em termos superficiais, sem realmente tratar de encontrar a resposta.
Mas em sua longa peregrinação, a cada Alma chega o tempo em que a vida se torna impossível a não ser que lhe conheça o motivo. É quando, desiludida do mundo circundante no qual o supremo contentamento jamais pode ser encontrado, a alma abandona por um momento sua perseguição frenética por ilusões e, em total exaustão, aquieta-se silenciosa e solitária. É nesse momento que nasce em seu interior a consciência de um novo mundo; é assim que, tendo desviado seu foco de fascinação do mundo circundante, a alma descobre a permanente realidade do mundo interior, o mundo do ser. Então, e só então, são respondidas as questões acerca da vida; porém, como disse Emerson, a Alma nunca responde verbalmente, mas pelo próprio objeto procurado."
(J. J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 15/16)
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