"(...) Não atribuamos a Deus mistérios onde há apenas absurdos teológicos e onde pode haver explicação lógica dentro do bom senso, da observação e, às vezes da experiência.
Atribuamos a Deus a imperscrutabilidade, mas não lhe confiramos desígnios caprichosos ou cruéis, sob pretexto de que 'Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir os sábios.' (S. Paulo, I Coríntios, 27).
Não é a Deus que lançamos a réplica e sim aos teólogos...
Gozo eterno para uma criança que morre logo após ao nascer?! Castigo eterno por maiores que tenham sido os pecados de um homem? Recompensa e castigo estarão em proporção com os méritos ou as faltas?! Não é mais natural, mais lógico, admitir que o homem grosseiro deve evoluir paulatinamente, até apresentar a delicadeza e a elevação do homem adiantado, ou melhor, biblicamente: 'Até ser perfeito como o Pai é perfeito', ou 'Até atingir à estatura completa do Cristo'? A quantos será possível isto numa só vida? As vidas sucessivas não o explicam perfeitamente?
Aceitar, hoje em dia, a teoria da vida única em lugar da teoria reencarnacionista, é o mesmo que preferir a explicação do raio como proveniente da cólera de Júpiter, à de sua origem elétrica...
A vida sem a reencarnação é um drama estranho e selvagem, como a qualificava Tennyson, e a evolução, um processo cruel e brutal.
Annie Besant cita o caso do selvagem de Darwin, que foi censurado por ter matado e comido a própria mulher, impelido pela fome. Julgando que o europeu o reprendia por estar simplesmente comendo carne indigesta, não se incomodou, bateu no ventre com ar satisfeito e, num gesto tranquilizador, exclamou: 'Ela estava excelente.' Termina Annie Besant: 'Medi em vosso espírito a distância moral que separa este homem de um São Francisco de Assis e vereis que, fatalmente, deve haver uma evolução, sem o que no mundo da alma tudo seria apenas um milagre permanente e uma criação sem nexo.'
Passamos por cima de outras fatos que têm explicação racional pela teoria reencarnacionista, porque admitem outras explicações lógicas; são eles as reminiscências, as afeições súbitas e, à primeira vista, as lembranças de coisas nunca vistas, o nascimento de meninos pródigos etc."
(Alberto Lyra – O ensino dos mahatmas – IBRASA, São Paulo, 1977 – p. 188/189)
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