"O antídoto para o apego é o desapego, ou o abrir mão. O desapego é a essência da virtude, e o processo de desapego é a virtude de agir sem apego. O homem precisa ver primeiramente o modo como ele é apegado. Devido à ignorância ou ao egoísmo, ele é apegado à ação, e portanto está sujeito ao karma, que ele chama de fado, sorte ou destino. Ele é apegado ao corpo e é movido pelas emoções e pensamentos. Está psicologicamente isolado e vive cada vez mais para si, usando os outros simplesmente para vantagem própria. A ganância, o egoísmo e a desonestidade são suas características. Ele reage rapidamente, sem entender plenamente ou perceber de fato o que está acontecendo. A ideia de 'eu' e 'meu' predomina.
O ego é o pensamento 'eu e meu', mas o verdadeiro eu é o puro Eu. Se considerarmos o puro Eu como o ego, então nos tornamos egoístas. Se considerarmos o eu como a mente, tornamo-nos a mente; se considerarmos como o corpo, tornamo-nos o corpo. É o pensamento que erige as muralhas e os envoltórios, de muitas maneiras. Os homens são apegados a seus animais de estimação, ao seu jardim ou à sua fazendo, à sua posição, à sua mobília, aos seus filhos, aos seus deuses, à sua religião, ao seu país, e assim por diante. Sua vida é baseada no apego material e no apego a dogmas, crenças, ideias etc. Uma pessoa pode ser instruída e erudita, mas ainda assim gananciosa e mesquinha. Mas onde há verdadeiro conhecimento não há apego. Se o conhecimento do homem não o ajuda a se tornar desapegado e livre, então existe algo de errado com sua compreensão.
O que é preciso para o desapego é compreender e aceitar nossos apegos e aprender a ver e compreender que no apego existe dor, medo, inveja e ansiedade. É verdade que a pessoa não consegue evitar que as impressões se formem no cérebro e aí se acumulem, porque o cérebro registra automaticamente. Temos padrões de comportamento cerebral. Não precisamos nos dar o trabalho de parar esse registro automático de impressões no cérebro, mas precisamos dar plena atenção a esse processo de registro e aprender a ver nossas próprias reações. O verdadeiro conhecimento não conhece apego; identificar-se, por exemplo, com o corpo e a mente é uma ilusão.
O corpo não é real. Cada partícula do corpo está constantemente mudando. O mesmo acontece com relação à mente. Num momento ela está feliz, noutro está infeliz. É como um redemoinho sempre a mudar. O homem precisa compreender que o corpo e a mente são uma série de fenômenos mutantes, para perder o apego e a identificação com eles. De posse do verdadeiro conhecimento, o homem, no nível físico, torna-se ativo, e não preguiçoso. No nível emocional ele não tem ira, luxúria ou ganância, e no nível mental não tem orgulho nem inveja. Ele se torna desapegado, e essa é a sua virtude essencial. Isso o ajuda a se corrigir, ao invés de querer corrigir os outros."
(C. A. Shinde - Desapego e Sabedoria - Revista Sophia, Ano 13, nº 53 - p. 28)
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