segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O DESPERTAR DA VIDA

"Ao fim de prolongada seca, o sertão não passava de um vasto cemitério de gravetos retorcidos e cinzentos a fazer companhia às pedras. Do verde, nem sombra. Nenhuma sombra-oásis para interromper a desolação, para proteger retirantes que por ali passavam ou ali morriam. Tudo esturricado. Tudo parecia morto.

Parecia somente.

Debaixo do chão, entretanto, germes dormiam. Na alma-cerne dos troncos e gravetos vibrava ainda a seiva. A vida dormia somente. Não morrera.

Desabaram as primeiras chuvas. Molharam o chão sedento e penetraram fundo para o mundo das raízes. E as águas despertaram a Vida.

Dias depois, a Vida esplendia. O verde explodia, vestindo toda a caatinga.

O pardacento cadáver da seca emigrou. Ninguém sabe para onde."

(Hermógenes - Mergulho na paz - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2005 - p. 148/149)


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