“Quem sou eu? Sou Judas, sou Jesus? Por medo, por
desejo, traio a mim mesmo. Sou quem eu não sou. Cubro minha face com muitas
máscaras e até mesmo torno-me máscaras. Estou demasiado ocupado representando
quem eu penso ser para conhecer quem realmente sou. Tenho medo: posso ser nada
mais do que pareço ser; pode não haver face alguma por detrás da máscara. Eu
decoro e protejo minha máscara, preferindo algo fantasioso a um nada real.
Apego-me ao rebanho por conforto. Junto nós tecemos
variadas vestimentas para cobrir nossa nudez. Guardamos o segredo de nosso nada
com uma agilidade ansiosa para que não sejamos descobertos. (...)
‘Quem sou eu?’ não pede por uma enumeração de fatos
científicos: expressa uma certa inquietude, um tatear e uma exploração. É o
começo de um movimento em direção à luz, em direção a ver as coisas claramente,
como um todo. É a recusa de permanecer no escuro - fragmentado e na superfície
de mim mesmo. É um estado de busca de significado, amplidão e profundidade. É o
desejo de despertar.
Logo traio este impulso e sou levado a dormir
novamente por afagos confortantes e contos de fada. Eu durmo, sonhando com
grandes aventuras e procurando os tesouros ocultos. Muitas jornadas, muitos
picos e os leões guardando as passagens da montanha. Por um momento acordo,
para descobrir-me prisioneiro do que sei e do que sou. Mesmo encontrando a
porta de minha pequena prisão aberta, eu permaneço nela, com medo de partir,
contando e recontando minhas posses e demonstrações de apreço.
Eu compartilho muitos muros com outros. Com vigor e
imaginação colaboro com outros na construção dos castelos da ciência, arte,
filosofia e religião, nos quais podemos descansar em segurança, esquecidos de
nossa ignorância acerca de quem somos, por que estamos aqui e por que fazemos o
que fazemos. A testemunha silenciosa dentro de mim pergunta: O que você busca?”
(Ravi Ravindra,
Sussurros da Outra Margem, Ed. Teosófica, Brasília - p.25/27)
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