“(§05) Entre o certo e o errado não deveria ser difícil escolher, pois aqueles que desejam seguir o Mestre já se decidiram a seguir o certo a todo custo. Mas o corpo e o homem são dois, e a vontade do homem não é sempre a que o corpo deseja. Quando o teu corpo deseja alguma coisa, para e pensa se tu realmente desejas isso. Pois tu és Deus, e tu queres somente o que Deus quer; mas deves penetrar fundo dentro de ti mesmo para encontrar Deus dentro de ti e ouvir a Sua voz, que é a tua voz. Não confundas teus corpos contigo mesmo - nem o corpo físico, nem o astral, nem o mental. Cada um deles pretende ser o Ego, para obter o que deseja. Precisas, porém, conhecê-los todos, e conhecer-te a ti mesmo como senhor deles.”
Após mostrar, no parágrafo anterior, que o discernimento deve ser exercitado e entendermos que discernimento gera mais discernimento, deveremos, através do autoconhecimento, buscar dentro de nós a voz interior “mas deves penetrar fundo dentro de ti mesmo para encontrar Deus dentro de ti e ouvir a Sua voz, que é a tua voz.” Essa é uma tarefa árdua e que leva muitas vidas, uma vez que já estamos identificados com outros nossos corpos. Nos envolvemos tanto na matéria, criamos tantos hábitos, que nem percebemos que somos comandados pelas nossas emoções e pensamentos. Somente através de uma investigação interior, perscrutando cada sentimento e pensamento é que poderemos iniciar o trabalho de domínio dos corpos inferiores. Essa é a parte árdua do trabalho onde poderemos cair nas armadilhas da autopiedade ou então da autocondenação, o que não nos levaria a lugar algum.
Em determinada etapa desse processo, mesmo após identificar o que não é a voz do nosso Eu Superior, ainda não conseguimos controlar os corpos emocional e mental. O apóstolo Paulo já nos falava sobre isso: “Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico.” E temos dificuldade de entender essa luta que existe dentro de nós.
Ricardo Lindemann coloca muito bem essa luta interior no seu livro A Tradição-Sabedoria no capítulo I, A Contradição Humana. Portanto, a origem do mal que existe em nós é a nossa identificação com nossos desejos e quando buscamos realizá-los na esperança de uma satisfação. Nesse mesmo capítulo, Ricardo Lindemann cita o Katha Upanishad, “Saiba que o Ser é o passageiro e o corpo, a carruagem; que o intelecto é o cocheiro e a mente, as rédeas. Os sentidos, diz o sábio, são os cavalos, as estradas que percorre são os labirintos do desejo.” Como bem diz Lindemann, “nessa bela alegoria oriental”, podemos perceber que podemos nos enredar vida após vida somente cedendo aos desejos dos nossos pensamentos, emoções e sensações e que esses corpos têm vontade própria e essa é a grande batalha de “Kurukshetra”, que cada um deve enfrentar dentro de si mesmo, a fim de que possa dominar esses corpos.
Comentários sobre o
parágrafo 5º de Aos Pés do Mestre, de J. Krishnamurti, Ed. Teosófica, p.19-21
Tirza Fanini
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