quinta-feira, 13 de novembro de 2014

COMO VER COM CLAREZA (1ª PARTE)

"Os Yogasutras de Patañjali mencionam a doença. Como sabemos, quando o corpo de alguém se torna doente, a mente não funciona de maneira adequada. Tomemos como exemplo uma pessoa que sempre foi gentil, hospitaleira, que amava servir aos outros, e que viveu até uma idade provecta. Ao se aproximar o fim de seus dias, ela parecia ter perdido todas essas qualidades. Essas e várias outras coisas podem acontecer por causa da condição corporal. No Bhagavad-Gita está dito que certos tipos de alimento produzem inquietação, distração e agressividade, e outros criam inércia, preguiça, relutância em se empenhar e assim por diante. Para ter uma capacidade mental calma e lógica, a pessoa precisa comer o tipo certo de alimento. 

Krishnamurti tinha algumas maneiras interessantes de responder. Parece que não comia nada que contivesse leite de búfala; às vezes, na sua comida, só permitia leite de vaca. Quando lhe perguntaram o que havia de errado com o leite de búfala, ele simplesmente respondeu: 'Olhe para o animal! O animal é pesado, gosta de se espojar nas poças de lama e é geralmente lento. Se comer esse tipo de alimento, você irá absorver algo dessas qualidades.' O hábito de comer carne jamais foi recomendado para pessoas que desejem estar despertas e alertas, porque as influências que estão no corpo animal - violência, ferocidade e assim por diante - até certo ponto atrapalham quando absorvidas.

Aquilo que bebemos também é importante. Uma pessoa viciada em álcool mais cedo ou mais tarde tem sua capacidade prejudicada. Existem também emoções que afetam a clareza da mente. Na tradição indiana, dizem que os inimigos de cada pessoa estão dentro dela, e não fora - sendo os inimigos a raiva, a ganância, a vaidade etc. É importante perceber isso. Aquilo que Buda chamou de 'as chamas' arde internamente.

A mente também não fica em condição melhor quando vê tudo isso. Nas escolas religiosas ensina-se a necessidade de permanecer calmo, de aceitar as coisas como são e de não inventar maneiras para aumentar a própria insatisfação. A ganância faz com que as pessoas destruam o ambiente. Atualmente o poder do dinheiro subjugou a sociedade moderna; a irracionalidade existe muito embora a mente se tenha tornado proficiente de algumas maneiras. 

O corpo, os sentimentos, a capacidade mental, os modos como a pessoa age e se relaciona estão interligados. Quando o pensamento se torna mais claro, mais lógico e mais sensível às necessidades dos outros, a outro pessoa é auxiliada, e isso também clareia a mente. Mas se nos sentimos emotivos e ansiosos isso então não é possível, porque as atitudes autocentradas obscurecem a mente. (...)"

(Radha Burnier - Equilíbrio na mente - Revista Sophia, Ano 9, nº 34 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 29)


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