"(...) Para que lutamos? Por que o estresse surge das
profundezas do nosso ser? A luta do nosso passado animal ainda estará ativa no
cérebro? Por que as pessoas que desfrutam das benesses da vida sentem-se
pobres? As crianças são preparadas para assumir posições cada vez melhores,
adquirir mais habilidades, realizar sempre mais. Além disso, existe a luta para
ser amado. Quanto mais as pessoas anseiam por amor, admiração e reconhecimento,
mais estressadas se tornam. Desejando e exigindo – em vez de estarem elas
mesmas amando e sendo úteis -, passam suas vidas lutando.
A luta é um hábito psicológico destrutivo para provar
o próprio mérito, para parecer esperto, obter vantagens, progredir rapidamente
e assim por diante. Mas por que devemos parecer espertos? Por que devemos
parecer alguma coisa? Por que todo esse esforço? Será possível agir e viver,
fazer o que vale a pena, o que é útil e bom, sem precisar psicologicamente lutar
para isso?
Como lutar é um hábito do ego, quando as pessoas
decidem não fazer parte do mundo e viver a vida espiritual, a mente continua
ansiosa por obter a atenção do guru, para se iluminar rapidamente ou para
encontrar o melhor método de vencer os defeitos. Assim, ela não é pacífica. É
fácil ser mundano enquanto se imagina ser espiritual. Por outro lado, ao
perceber que o eu egoísta se alimenta da confrontação com os outros, com as
ideias, as circunstâncias e os seus próprios defeitos, a pessoa se livra da
tensão, e sobrevém a calma.
Viver uma vida saudável, ser natural e feliz como as
crianças significa não lutar, mas permanecer quieto e calmo com o que quer que
seja. O Taoísmo ensina a não resistência, o que implica profundo contentamento
interior, em harmonia com o céu e a terra. Não será isso o que quer dizer o Bhagavad Gita ao aconselhar a pessoa a
agir ‘estabelecida no yoga’? Yoga é realizar plenamente a harmonia do
céu e da terra dos quais somos parte. Quando não há sentimento de luta, ocorre
uma mudança nos nossos relacionamentos e em nosso próprio ser. (...)"
(Radha Burnier - Estar no mundo e viver em paz - Revista Sophia, Ano 11, nº 41 - p. 29/31)
Nenhum comentário:
Postar um comentário