"(...) Claro que você sabe que um dia vai morrer, mas isso permanece apenas como uma ideia, até que você seja confrontado pela primeira vez com a morte. Ela pode chegar através de uma doença grave, de um acidente que atinja você pessoalmente ou da morte de um ente querido. Nesse momento a morte entra em sua vida e você toma consciência de que é um ser mortal.
A maioria das pessoas procura ignorar esse fato, mas, se enfrenta a realida de que seu corpo é passageiro e pode acabar a qualquer instante, você consegue separar sua forma física do seu 'eu'. Quando admite e aceita a natureza fugaz e passageira de todas as formas de vida, você é invadido por uma estranha sensação de paz. Ao encarar a morte de frente, sua consciência se liberta até certo ponto da identificação com a forma física. (...)
A cultura ocidental ainda nega amplamente a morte. Até as pessoas idosas procuram não falar ou pensar na morte, e os corpos dos mortos são mantidos a distância. Uma cultura que nega a morte torna-se inevitalmente superficial, preocupada apenas com a aparência das coisas. Quando se nega a morte, a vida perde a profundidade. A possibilidade de saber quem somos para além do nome e da forma física - a nossa dimensão transcendental - desaparece, pois a morte é a abertura para essa dimensão.
As pessoas, de um modo geral, se sentem profundamente pertubadas com qualquer coisa que acaba, porque todo fim é uma pequena morte. É por isso que em muitas culturas as pessoas preferem se despedir dizendo algo equivalente a 'até logo', o que significa 'nos vemos depois'. Sempre que uma experiência termina - uma mudança de endereço, as férias, os filhos indo embora de casa -, você passa por uma pequena morte. A 'forma' que essa experiência tinha na sua consciência desaparece. Muitas vezes isso faz com que você sinta um vazio do qual a maioria das pessoas tenta fugir.
Se você aprender a aceitar e até acolher os pequenos e grandes fins que acontecem em sua vida, pode descobrir que o sentimento de vazio que a princípio causou tanto desconforto se transforma num espaço interno profudamente cheio de paz. Aprendendo a morrer assim a cada dia, você se abre para a Vida. (...)"
(Eckhart Tolle - O Poder do Silêncio - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2010 - p. 65/66)
Nenhum comentário:
Postar um comentário