"A literatura da filosofia do Vedanta fala de
diferentes níveis de realidade percebidos pela consciência. Somente quando
passamos totalmente uma dimensão da realidade, é possível que fiquemos cientes
de outra ainda maior. No que se refere à mente do homem, ele se preocupa apenas
com sua sobrevivência e, em seu sentido ampliado, vive numa ilusão.
No conhecido ensinamento do Vedanta, para o olhar
atento, a corda enrolada é apenas uma corda, mas uma cobra para outros. As
reações variam conforme os níveis de percepção. Quem tem um temperamento tímido
fica apavorado e sai correndo; quem tem uma natureza agressiva, não tenta
escapar, mas tenta corajosamente matar a cobra e destruí-la. Essa é uma
experiência de violência e, a outra, de medo; no entanto, ambas são formas de
reação que surgem do mesmo erro básico de percepção. Para aqueles que veem
claramente e sabem que o objeto não é uma cobra, mas simplesmente uma corda, as
duas formas de ação são impossíveis. E, por isso, quando há uma nova percepção,
ações aceitas previamente não têm mais sentido.
Quando um homem reconhece que não precisa mais se
preocupar com a falsa percepção de sobrevivência, ele descobre uma nova maneira
de ação e um novo significado da vida. Este ‘retorno’ deve ser radical. Há quem
busque novos valores e, ao mesmo tempo, agarre-se às antigas maneiras de agir.
Buscam gurus e tentam várias técnicas de meditação, na esperança de descobrirem,
por tais meios, o segredo da vida. Entretanto, a verdade sobre a vida nunca
poderá ser descoberta enquanto as formas de ação que aceitam surgirem na mente
que dá sentido à sobrevivência. (...)
É esse, então, o desafio que a vida oferece – que o
homem possa conscientemente aprender, entender e receber sua mensagem, assim
como a vida não humana inconscientemente aprendeu a recebê-la. Foi dito que no
vasto projeto em que a natureza está operando, há um movimento da perfeição
inconsciente para a imperfeição consciente, e que da imperfeição consciente
temos que avançar para a perfeição consciente. A perfeição consciente pode
surgir apenas quando aprendemos a trabalhar em harmonia com o projeto da
própria vida. A vida exige que a mente do homem renuncie a seus próprio
desejos, seus impulsos, instintos e reflexos, para que um poder muito maior
possa desabrochar e revelar-se, não conforme a vontade do homem, mas em
obediência às leis divinas e à vontade da natureza."
(Radha Burnier - O desafio da vida - Revista Theosophia, Ano 103, Abril/Maio/Junho de 2014 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 7/11)
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