"(...) O mais difícil de se modificar é o nosso ambiente,
porque nesse caso estamos tratando com a forma mais densa de matéria, aquela
sobre a qual a força do nosso pensamento tem menos força. Nesse caso, nossa
liberdade, fica muito limitada, porque estamos no ponto mais fraco, e o passado
está em seu ponto mais forte. Ainda assim não estamos de todo desamparados,
porque nesse ponto, seja pelo combate, seja pela aceitação, poderemos,
finalmente, obter êxito. A parte indesejável do nosso ambiente que podemos
modificar com vigoroso esforço é a que temos de modificar de imediato. O que
não conseguirmos modificar, aceitamos e ficamos observando o que isso tem a nos
ensinar. Quando tivermos aprendido essa lição, essa parte indesejada irá
desprender-se de nós como uma roupa usada. Temos uma família indesejável: bem
ela é formada pelos egos que chamamos para junto de nós no passado; realizamos
todas as obrigações com ânimo e paciência, pagando com honradez nossas dívidas;
adquirimos paciência através dos transtornos que ela nos causa, vigor através
das irritações diárias e perdão através de seus erros. Nós a usamos como o
escultor usa seus instrumentos de trabalho: para aplainar nossas excrescências
e alisar e polir nossas arestas. Quando a utilidade desses egos terminar para
nós, eles serão levados embora pelas circunstâncias ou afastados para outro
lugar qualquer. O mesmo acontecerá com os outros aspectos do nosso ambiente,
que, aparentemente, são aflitivos. Como o marinheiro experiente que move suas
velas conforme o vento que ele não pode modificar e então força-as a colocá-lo
na rota, usamos as circunstâncias que não podemos alterar adaptando-nos a elas,
de forma que se vejam compelidas a nos ajudar.
Assim em parte somos compelidos, em parte somos
livres. Temos de trabalhar entre e com as condições que criamos; mas somos
livres, dentro delas, para trabalhar sobre elas. Nós próprios, Espíritos
eternos, somos inerentemente livres, mas só podemos trabalhar dentro e através
da natureza do pensamento e do desejo que criamos. Esses são os nossos
materiais e as nossas ferramentas; não poderemos ter outros enquanto nós mesmos
não os produzirmos."
(Annie Besant,
Os Mistérios do Karma e a sua Superação, Editora Pensamento, 2001, p.97/99)
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