"Amor, segundo o dicionário, é um substantivo masculino e abstrato. Nessa perspectiva, ele se encaixa muito bem no amor derramado dos livros e filmes românticos ou dramáticos que temos disponíveis. Aceita perfeitamente a áurea onírica, idealizada ou religiosa em que nós acostumamos a envolvê-lo. Explica as diversas frustrações, tragédias e desequilíbrios causados em seu nome. Estimula a busca incansável pela alma gêmea, pela felicidade, pela satisfação, pelo prazer.
Esse amor é algo que não diz respeito às grandes verdades da alma, pois nasce do medo. Medo da solidão ou do julgamento. Esse amor cria o sentimento de separatividade, que em sua mais fanática expressão nos leva ao isolamento em seitas, grupos ou castas.
Aprendemos com a nossa professora de português que amar é um verbo - portanto ação - e que o sentido precisa ser complementado para que haja clareza na mensagem transmitida. Nós nos acostumamos a revestir o amor das formas mais variadas. Amamos com os sentidos as mais variadas coisas, aquilo que achamos possuir, acreditar ou defender.
Embotados pelos sentidos, acreditamos que o amor, aquele amor que precisa de complementos, é o que nos trará a felicidade. Acreditamos que Deus nos ama com algum complemento, algum adjetivo. Por fim, percebemos que esse amor nos torna menores. Então descremos do amor e nos frustramos.
Na ótica em que pretendemos analisar a ação de amar, usaremos a licença poética de Mário de Andrade, que, desafiando os gramáticos, declarou: 'Amar, verbo intransitivo.' (...)"
(Carla Maiolino - Amar, Verbo Intransitivo - Revista Sophia, Ano 11, nº 44 - p. 24)
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